Continuação de Graduações 1984/85: "Post-mortem" (Parte I).
A falta de liderança ao nível global foi o problema mais complexo que assolou o nosso curso.
Em muitos cursos havia um ou dois alunos que desde cedo eram “posicionados” para exercer as funções de topo na hierarquia Colegial, quer pelos camaradas, quer pelos professores e oficiais. Os professores e oficiais ajudavam a que não lhes faltasse o “ouro” suficiente para a função, e os camaradas habituavam-se a reconhecer neles uma liderança “de direito”, ainda que esta nem sempre correspondesse a uma liderança “de facto”. Esta solução, ainda que não sendo a ideal, pelo menos criava uma figura de referência, alguém para quem os camaradas se voltavam quando era necessário que alguma coisa fosse organizada.
Em outros cursos verificava-se o surgimento de um líder natural que, não tendo o “pedigree medalhístico” dos anteriormente referidos, poderia beneficiar do facto da não haver um líder “de direito” para acabar por ser o escolhido para a função.
No nosso curso, a correlação entre aplicação literária, aptidão militar e física e comportamento exemplar era bastante reduzida e, dos poucos que se aproximavam dessas circunstâncias, nenhum se alinhou ou foi alinhado para a função.
Com o passar dos anos, começou a surgir no curso um nome consensual. Não sendo um líder claro, conseguia ser o “mal menor”, porque parecia ser capaz de fazer a “ponte” entre a Classe Especial e os restantes camaradas, ou pelo menos não ser “vetado” por nenhuma das “facções”. No entanto, no início do 8º ano não “compareceu à chamada”, "desaparecendo misteriosamente". Toda a gente é livre de fazer opções sobre o seu futuro, mas quando alguém que, com elevada probabilidade, vai ser o Comandante de Batalhão, sai e nunca mais aparece no Colégio, nem vai aos “3 de Marços”, nem aos jantares de curso, nem à comemoração dos 25 anos de entrada, há seguramente um mistério que um dia será explicado.
E assim prosseguimos para o 8º ano. Cada companhia organizou-se como entendeu, não havendo uma estratégia global. Nas organizações globais ("mocada", chás dançantes, etc) imperou o improviso; como "corolário", "comemos" o livro de curso, ou seja, optámos por gastar num jantar o dinheiro que nos sobrava para o livro.
Seria fácil mandar a culpa desta situação para cima de A ou B. Neste caso, fomos todos culpados, quer porque não criámos condições para que houvesse uma liderança efectiva, quer porque não exigimos aos camaradas que tinham essa responsabilidade formal que cumprissem com as suas obrigações ou "saíssem de cima".
Continua em Graduações 1984/85: "Post-mortem" (Parte III).