segunda-feira, novembro 27, 2006

Olhos Nos Olhos

Agora falo eu. Sim, é o Alvin, ex-402. Para quem se perguntava sobre o meu paradeiro, aqui estou, vivo e de boa saúde. Continuo o mesmo puto baixinho, brincalhão (agora com 40, uns quilitos a mais e uns cabelos a menos), como alguns de vós (do curso do Chagas, de 77) me conheceram melhor.

Sou polícia (irónico, não é?), casado, sem filhos e vivo em Linda-a-Velha, já desde 94, e vim para a grande metrópole em 92, por motivos profissionais (invariavelmente, todos os chuis passam por cá).

Embora me tenha desligado completamente do pessoal, acreditem que nunca me esqueci daqueles com quem vivi naquele Colégio (e reparem que o escrevo com letra maiúscula), tanto dos que recordo com saudade, como daqueles que más memórias me trazem. E para estar aqui é porque mantenho contacto com alguns desse tempo e também visito este blog. E foi precisamente por, com grande surpresa, me ver como tema de discussão, que resolvi “levantar o véu” e dar alguns esclarecimentos pessoais, para clarificar qualquer dúvida sobre o assunto em apreço.

De facto, todo aquele episódio dos “interrogatórios pidescos” foi terrivelmente marcante. Para mim e para outros, particularmente para o “Fozi”, com quem, devo dizer, tive um relacionamento porreiro. Para este último, que era um aluno de excepção (conduta e aproveitamento), foi imperdoável o que lhe fizeram. Conspurcaram o verdadeiro espírito do Colégio Militar num inocente, de forma brutal e asquerosa. A minha sincera pena e solidariedade, Fozi. Também um grande abraço para o 376 – Lopes (de cuja alcunha já não me lembrava – tive que ir à enciclopédia colegial, i.e. Chagas).

Continuando… Quanto a mim, que já era suspeito do costume (porque andava sempre na berlinda por tudo e mais alguma coisa – sim, fui muito massacrado!), portanto se calhar até andava a pedi-las e paguei por aquela que não tinha cometido e por outras que tinha cometido. Só quero que fique bem claro mais uma vez que tudo aquilo que alguns passaram naquela episódio de má memória, não é da minha culpa. Eu não era flor que se cheirasse, é certo, mas o que eu e outros (miúdos) passámos foi realmente degradante para aquela casa secular, ícone de tradição, honra e cavalheirismo. Os alunos graduados que lideraram todo aquele enredo também mereciam uma coisa que eu cá sei.

Posso garantir-vos que em 14 anos de profissão já vi muita merda e muito facínora (e trabalhei nalguns dos piores sítios, acreditem) e sei reconhecer a maldade quando a vejo. E ali, meus caros, houve despotismo e maldade pura – não tentemos amenizar. Caso se perguntem, não, como polícia nunca o fiz e nunca permiti que o fizessem com o meu conhecimento. Mas este tema já foi debatido amplamente, não quero tocar-lhe mais, pois já bastaram estes anos todos a tentar esquecê-lo.

Outro esclarecimento é o seguinte: eu fui, claro, convidado a sair do Colégio, não saí por iniciativa própria. De qualquer forma, acho que não suportaria a vergonha de lá continuar, dadas as circunstâncias do meu passado em relação a furtos que tinha cometido. Não o escondo – é verdade.

A minha consideração final é a seguinte: de facto, o Colégio Militar não se faz destes tristes episódios, nem desta minoria que fracassa nestes dois aspectos: comportamento e/ou aproveitamento escolar. E eu sou o primeiro a atestá-lo. Não queria que o meu caso fosse divulgado, pela vergonha que persiste em ensombrar-me. Mas vivo com isso e não me atormenta propriamente, pois já passou algum tempo (20 anos) e arrogo-me o direito de regeneração – perdão ficará à vossa consideração. Quero sim dizer que, até eu, que vivi 7 anos que abarcaram parte das minhas infância e adolescência, e que cometi muitas argoladas, sinto hoje que nem tudo se perdeu. Aquela casa incutiu-me realmente valores, que me têm valido ao longo da vida. Eu noto a diferença entre a minha forma de estar e a dos outros, nos mais diversos aspectos. Por isso, agradeço tudo o que o Colégio Militar me ensinou de bom e quero esquecer os aspectos negativos. Aquela casa não morreu para mim, e especialmente os meus camaradas de curso adoptivo (os de 77), por ter sido repetente. Espero ainda vir a dar um valente abraço a muitos deles, se os voltar a ver, como já aconteceu nalguns casos. A lagrimazita vai vir, da força da emoção.

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Texto enviado para publicação pelo Alvin, na sequência dos acontecimentos referidos nos comentários do "post" No Divã da "Enferma": O Botão Encarnado.

quinta-feira, novembro 23, 2006

Memórias do Baú LXXII - O "Cadastro" (Parte II)

Continuação de Memórias do Baú LXIX - O "Cadastro" (Parte I).

A segunda secção do "cadastro" continha, para cada ano lectivo, o ano, a turma, a companhia, o aproveitamento e o comportamento.


A informação sobre o comportamento era a mais importante em termos da avaliação rápida das características de um aluno por parte de um oficial novo na companhia. Os oficiais tendiam a julgar os alunos em função do seu comportamento anterior, levando à criação de ciclos viciosos ou virtuosos, mediante os quais o comportamento anterior tinha a tendência a repetir-se no futuro.

Esta secção livrou-me de algumas punições "menores" (atrasos e afins), que eram geralmente convertidas em repreensões verbais.

Para além de um "B" (no 3º período do 3º ano) perdido no meio de uma série de "MBs" (a explicar mais tarde), há a referir a mudança de padrão na entrada para a 4ª companhia, onde a manutenção de "MB" seria considerada um desalinhamento com o espírito reinante... ;-) Felizmente consegui fazer a 4ª toda sem um único "MB"...

Continua em Memórias do Baú LXXIII - O "Cadastro" (Parte III).

sábado, novembro 18, 2006

Um Ano de "Blog" - Um Balanço

Do Que Eu Gostei Mais

A primeira "série por episódios": L. A. C. - Liga Anti-Cavalo. Ajudou a definir a direcção para o "blog".

A primeira "Memória do Baú" pouco vulgar: Memórias do Baú V - A Planta da Camarata. "Este gajo guardou isto?" Pois é.

O primeiro trabalho gráfico: As Medalhas Que Ninguém Ganhou. Divertido e útil... ;-)

As primeiras inovações face à estrutura tradicional de um "blog": Índice Temático e Os Comentários. Um dia, todos os "blogs" serão assim. ;-)

A primeira polémica: Um Homem Não Chora(va). Foi também a única que consegui prever.

O primeiro trabalho de investigação: O Aluno com Maior Percentagem de Medalhas Conquistadas. Como qualquer trabalho de investigação, deu trabalho e ninguém ligou. :-(

O primeiro "mega-hit" em termos de visitas e comentários: No Divã da "Enferma": O Botão Encarnado. Uma polémica inesperada que "apaixonou" a audiência.

terça-feira, novembro 14, 2006

Memórias do Baú LXXI - Edição de Aniversário

No dia em que passa um ano desde o primeiro "post" deste "blog", gostava de escrever sobre o processo de selecção e tratamento das memórias.

Ao contrário do que é sugerido em alguns comentários dos visitantes, a minha memória é fraca: vinte anos de vida académica, familiar e profissional acabaram por "escurecer" e "distorcer" as minhas memórias dos tempos do Colégio.

De cada ano que lá passei ficaram alguns episódios pontuais, sobretudo os associados aos momentos mais marcantes que vivi, aos amigos que fiz e a alguns objectos que guardei.

A selecção de memórias a desenvolver e publicar exige, assim, um esforço grande em termos de "pesquisa mental", com o qual vou alimentando um "banco de ideias" que considero serem merecedoras de abordagem no "blog".

Uma vez identificado um tema que considero interessante desenvolver, o mesmo anda na minha cabeça durante dias ou semanas, até finalmente começar a ficar mais claro e com contornos mais nítidos.

Nesta fase, começo a escrever os primeiros esboços, que vão progressivamente convergindo para a versão final. Tenho sempre a consciência de que o resultado final vai ser bastante incompleto, mas o meu objectivo é simplesmente o de despertar a mesma memória em outros ex-alunos, para que possam complementar o meu texto.

Tenho geralmente o cuidado de deixar "nebulosas" algumas áreas da memória, pois há temas que são sensíveis para terceiros, e prefiro que sejam estes a abordá-los (se assim o entenderem).

Após a publicação, cabe aos visitantes utilizar os comentários para melhorar a qualidade da memória, quer corrigindo algumas incorrecções, quer fazendo luz sobre aspectos não abordados.

O resultado final, não tendo a vivacidade das memórias do passado recente, permite-nos "rever" os acontecimentos e relembrar as sensações do passado.

Em alguns casos, a informação acrescentada é de uma tal riqueza em termos de detalhe que a memória ganha uma "cor" que já não tinha, e é quase como se a estivéssemos a viver no presente.


Os meus motivos para manter o "blog", após um ano de operação, são significativamente diferentes dos motivos iniciais.

Porque escrevo, então?

Em primeiro lugar, para me recordar e para não me esquecer. Em segundo lugar, para recordar com os ex-alunos meus contemporâneos os bons tempos que passámos no Colégio. Em terceiro lugar, para dar aos alunos e restantes ex-alunos uma visão do que era o Colégio "no meu tempo".

Quero aproveitar este "post" de aniversário para agradecer a todos os que, com os seus comentários, têm tornado as minhas memórias mais "nítidas" e com mais "cor". Infelizmente, não há uma cultura de acompanhamento regular de "blogs" (apesar das ferramentas que actualmente existem para facilitar esse acompanhamento) nem uma cultura de participação, o que faz com que o meu objectivo de melhoria da memória pela discussão seja, na maior parte das vezes, uma "miragem".

A Fotografia

A fotografia publicada não foi passada para o papel na altura da revelação, devido a estar muito escura. Utilizando um scanner e algumas funcionalidades básicas de um software de edição de imagem, foi possível chegar a uma versão que permite ter uma visão (ainda que de má qualidade) da cena fotografada.

A fotografia faz conjunto com as duas já publicadas em Memórias do Baú XXVI - Frases Lapidares e Memórias do Baú XXVII - Frases Lapidares.

Fotografados: 357/77 e ??? - talvez as outras duas fotografias contenham algumas pistas... aquela "pernoca" no ar tem o estilo da Classe Especial... ;-)

quinta-feira, novembro 09, 2006

A "Guerra das Turmas" (Parte IV)

Continuação de A "Guerra das Turmas" (Parte III).

A Explicação

Como explicar as características tão diferentes em termos de aproveitamento e comportamento entre três turmas definidas com base em critérios administrativos?

Comecemos pela Turma A. A Turma A era... - como dizê-lo?... - a turma dos gajos que escolheram Francês. Já na altura ninguém no seu perfeito juízo escolhia Francês, e os resultados estão à vista...;-)

Concentremo-nos então na diferença entre as Turmas B e C.

Quem escolhia os números para os filhos? Alguém que tinha ligação ao Colégio - ex-alunos, oficiais, professores -, alguém que queria que o filho tivesse o número de um ex-aluno ilustre, ou um oficial de alta patente a quem o Colégio sugeria essa possibilidade. Em qualquer dos casos, e porque o contingente do Batalhão Colegial esteve em crescimento até meio da década de 70, havia grande probabilidade de o número escolhido ser um número baixo.

A Turma B tinha, assim, uma maior percentagem de filhos de pessoas com maior ligação ao Colégio e/ou com maiores expectativas face ao mesmo.

Os alunos da Turma B não seriam, em termos estatísticos, melhores ou piores do que os da Turma C; tinham, no entanto, uma maior necessidade de corresponder às expectativas dos pais, o que tinha consequências ao nível do comportamento e da atitude face à aprendizagem (atenção nas aulas), com implicações ao nível do aproveitamento escolar.

Com o passar dos anos as diferenças foram-se esbatendo, até que o 5º ano mostrou a verdadeira relação de capacidades entre as turmas... ;-)

domingo, novembro 05, 2006

Memórias do Baú LXX - "Área Reservada"


A Secretaria

O "vigilas" parte, o graduado chega...

Depois de um dia de trabalho, os "vigilas" voltavam para casa, e era a vez dos graduados se aventurarem nesta "área reservada".

Para além do material escolar (capas, cadernos, material de desenho, etc) - sempre deixado tal como estava -, pouco mais de interessante havia, pelo que as visitas se limitavam ao "eu estive aqui".

Fotografados: 401/77, 207/78 e 357/77.

Para acederes ao "post" anterior sobre a "Área Reservada", clica aqui.

Para acederes ao "post" seguinte sobre a "Área Reservada", clica aqui.

quarta-feira, novembro 01, 2006

Resumo de Setembro e Outubro de 2006

Este "post" faz o resumo da actividade do "blog" em Setembro e Outubro de 2006.

No tema Histórias do Meu Tempo de Colégio, há a destacar a estreia da série No Divã da "Enferma". O "post" de estreia, O Botão Encarnado, gerou um conjunto de comentários muito interessantes, terminando com um do Jags que reproduzi no "post" Os Alunos Fazem o Colégio. A não perder. Outros "posts" publicados neste tema: As "Minhas Crianças", Que Pesos, Que Medidas? e "Área Reservada".

No tema Memórias do Baú, para além de mais uma Requisição e uma Redacção, há a destacar as memórias sobre O Estudo, O Bar, O Durão, o "3 de Março" de 1985 e O "Cadastro".

No tema A Actualidade, foram publicados "posts" sobre A Imposição de Graduações e Os Cyber-Graduados.

No tema O "Blog", foi publicado um "post" em Sueco (Tacka Dig För Ditt Besöker), dedicado às muitas Suecas que visitam o "blog". O Freitas deve ter um sucesso brutal na Suécia, e o "blog" dele tem uma ligação para este "blog", através da qual vêm 16% das visitas.

Merecem sempre destaque no "blog" o Índice Temático e os Comentários.

Se preferirem, podem iniciar a exploração pela página inicial.

Agradeço comentários/sugestões.