quinta-feira, maio 22, 2008

O Curso de Pára-quedismo (Parte IV)

Continuação de O Curso de Pára-quedismo (Parte III).

Os Saltos em Évora

Depois dos dois primeiros saltos em Tancos, fomos para Évora com o objectivo de fazer os últimos quatro saltos num só dia.

De manhã havia algum vento, e o oficial pára-quedista responsável achou que não havia condições para saltar. Andámos pelo aeródromo a "fazer tempo", até que acabámos por ir almoçar. À tarde estava aparentemente o mesmo vento, mas o oficial "olhou com mais atenção" para o anemómetro e acabou por concluir que havia condições para saltar… ;-)

Tínhamos, assim, poucas horas para fazer 4 saltos. Cada salto significava uma descolagem com 4 pára-quedistas e a realização de 2 passagens sobre o Aeródromo, largando 2 pára-quedistas em cada passagem, o que implicava a realização de 8 voos, com cerca de 40 minutos cada: 15 minutos para subir e posicionar, 15 minutos para as 2 passagens e 10 minutos para descer. Com o tempo disponível, o avião não ia parar.

Se o avião não parou, houve alguns "desgraçados" que também não pararam. O último a saltar em cada voo (que, infelizmente, era o meu caso) demorava alguns minutos a chegar ao chão e mais alguns minutos a enrolar o pára-quedas, e depois tinha uma longa caminhada até ao Aeródromo, que incluía passar pelo menos 2 cercas de arame farpado. Esta caminhada demorava 20 minutos, e assim que chegava tinha que se voltar a equipar à pressa, porque o avião já tinha largado os pára-quedistas do voo seguinte e já estava a vir para baixo.

Depois de levar um pára-quedas "novo" às costas e de ser apertado até quase não conseguir respirar, seguia-se mais meia hora de voo (leia-se “enjoo”) até ao salto seguinte.

E quanto a feridos? Se o primeiro ferido ligeiro foi o "Escroque" (ver a Parte II), o primeiro incapacitado foi... o "Escroque".

Eu tinha acabado de fazer o 3° salto do dia, e fazia a minha caminhada apressada de saco às costas de regresso ao Aeródromo, quando, como era habitual, passei pelo sítio onde estava a aterrar o primeiro pára-quedista do voo seguinte, que era o "Escroque".

Após a aterragem, o "Escroque" ficou estendido no chão, a olhar para o céu, com o pára-quedas cheio, embora sem ser arrastado. Já que estava por ali, baixei-lhe a calote e fui ter com ele. Era normal que, no fim de cada salto, desde que não fosse necessário levantar-se imediatamente para segurar o pára-quedas, cada um de nós ficasse no chão durante uns instantes, quer a agradecer ao Criador ainda estar vivo, quer a contar os ossos para ter a certeza que estavam todos inteiros.

Aparentemente o "Escroque" já tinha contado os ossos, e a contagem tinha falhado: não conseguia mexer um dos braços. Tentou levantar-se, mas a dor foi tanta que ficou imóvel.

Esbracejei a pedir ajuda, e apareceram reforços. Um dos primeiros a aproximar-se foi o Director do Colégio, que tinha chegado entretanto para a cerimónia de entrega dos brevets. Quando o Director chegou, eu estava a acabar de soltar o arnês do "Escroque", e ele esbracejava desesperadamente de dor com o braço "bom".

O Director perguntou-lhe simpaticamente qual era o problema, e o "Escroque" disse-lhe que não conseguia mexer o braço. O Director perguntou-lhe "qual?", e o "Escroque" olhou para ele com um ar surpreendido, porque agitava um dos braços, enquanto o outro estava imóvel.

Ainda o “Escroque” estava a pensar na pergunta anterior, quando o Director resolveu ajudá-lo a levantar-se, puxando-o pelo braço "bom". O "Escroque" fez uma expressão de dor e gritou um sonoro "larga-me, car@lh&!", e nessa altura o Director achou que era melhor chamar ajuda especializada.

O "Escroque" foi levado ao hospital, onde lhe foi diagnosticada uma fractura na clavícula.

Voltou já no fim do dia, todo ligado, e ainda tentou voltar connosco para Lisboa, mas a trepidação da velha “TP-21” frustrou-lhe os planos...

Continua em O Curso de Pára-quedismo (Parte V) (a publicar).

Fotografias extraídas de http://fotos.paraquedistas.com.pt.

domingo, maio 11, 2008

Memórias do Baú CXXIX - O Curso de Pára-quedismo


Ao contrário da subida no Aviocar, que tinha sido "rápida e indolor", a subida no Dornier 27A-3 era lenta e agonizante, devido à menor potência do motor e ao maior calor que se fazia sentir em Évora.

Dava muito tempo para pensar "o que é que eu estou a fazer aqui?"...

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