quinta-feira, janeiro 24, 2008

Adenda à Compilação do Vocabulário Colegial

A compilação do Vocabulário Colegial (disponível no site da AAACM, secção de downloads) contém quase duas centenas de palavras ou expressões da gíria colegial.

A gíria colegial é uma entidade viva, que vai evoluindo de geração em geração, e por isso não é de estranhar que o número de termos que eu identifico como fazendo parte do meu Colégio não seja superior a um terço do total.

Puxando pela memória, identifiquei mais uma meia dúzia de palavras ou expressões que, ou não estão na lista, ou estão mas não estão explicadas de forma clara. Não sei se ainda se usam, mas a minha geração fez o seu trabalho, que foi recebê-las e passá-las à geração seguinte.

Cheiro a pé

Cheiro a transpiração dos pés (vulgo "chulé").

Despotismo

Exercer violência sobre camaradas mais fracos.

Despotista

Alguém que pratica despotismo.

Uma - uma e meia - duas - duas e meia - duas e três quartos - e às - de - te - re - ês

Forma de forçar o cumprimento de uma ordem, dando uma última oportunidade aos retardatários. A velocidade da contagem varia de acordo com o grau de tolerância, mas em nenhum caso se saltam os diferentes passos da contagem, permitindo aos retardatários adaptar o seu esforço ao tempo disponível.

Cona

Adjectivo masculino aplicado a alguém que não assume as responsabilidades pelos seus actos (não se acusa), levando por vezes à aplicação de um castigo colectivo.

Papel Caganal

Papel higiénico.

45 Graus

O vulgar "pontapé no cu", castigo ligeiro aplicado pelos graduados para faltas menores. A força pode variar com a gravidade, mas nunca há "biqueiradas".

Repetição

Segunda travessa de comida que vem no fim da refeição, e que é geralmente servida por ordem inversa à da primeira travessa.

Apresentação à Alvorada

Castigo "sem contacto", aplicado geralmente a faltas ligeiras. O castigado apresenta-se ao graduado fardado com a farda indicada (cotim ou pano) logo após a alvorada, fazendo posteriormente as trocas de farda necessárias para cumprir o castigo.

As variantes normais são "cotim", "pano" e "pano-cotim-pano", mas há variantes mais "criativas", tais como "pano-cotim-pano-cotim-pano", "pano-cotim-pano-bragas-pijama-pano" e ainda outras, mais raras, que envolvem a tala para limpeza de botões e/ou a porta do armário (esta última só era aplicada quando os armários eram de madeira).

sábado, janeiro 19, 2008

Memórias do Baú CXXI - Exercícios Militares


Partida dos "ratas" de 1984/85 para o acampamento.

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sexta-feira, janeiro 11, 2008

"Isto Não Define Quem Sou" (Parte I)

O Pedro (102/84) faz parte do curso que eu designo como "as minhas crianças". Numa fotografia tirada no 1º ano, podem ver-se alguns dos "ratas": em cima, 35, 54, 105, 58, 102, 107, 34 e 114; em baixo, 38, 120, 30, 93, 138 e 94; ao fundo, sempre atrasado... ;-), o 22.


A sua postura de "contestatário" ("cedo aprendi a pensar sozinho, a questionar dogmas e a opor-me abertamente a certas carneiradas do curso") e o destaque que tinha - era o aluno mais medalhado do curso - valeram-lhe um lugar no Comando ("3 estrelas"), um "exílio" comum, ao longo dos anos, a muitos outros alunos com as mesmas características, umas vezes por iniciativa dos próprios ("não me chateiem"), outras por iniciativa dos seus cursos ("não nos chateies").

Depois de sair do Colégio, passou pelo curso de Medicina, mas acabou por mudar para Biologia, a sua verdadeira paixão. "Como a qualidade do curso na Faculdade de Ciências não me entusiasmou, segui viagem para a Escócia, onde estive 3 anos, até terminar o curso. Depois de um curto regresso a Portugal, fui fazer o mestrado ao Imperial College, em Londres, e iniciei o doutoramento na Califórnia, mas senti-me muito longe de tudo e todos e ao fim de três meses regressei a Portugal para assumir a direcção do negócio da família, um lar de idosos. E é isso que faço há 5 anos. Entretanto conheci o meu companheiro, com quem vivo".

O Pedro concordou em falar sobre um aspecto da sua vida privada, mas teve o cuidado de fazer uma ressalva: "isto não define quem sou".

"[A consciência da diferença] surgiu com a puberdade, no terceiro ano, enquanto estava na segunda. [...] Foi bastante automático perceber que havia algo de 'errado' com o que eu estava a sentir, mas durante muito tempo iludi-me a pensar que era uma fase absolutamente natural [...] - afinal, até tinha lido sobre isso.... Mas senti-me logo diferente e comecei a ter muito cuidado com o que dizia ou expressava. Seria um cuidado que viria a dominar por completo o meu percurso no Colégio".

Mais do que uma análise psicológica e/ou social sobre o que fazia ou não sentido que fossem as regras de uma instituição como o Colégio, era importante que se percebesse quais eram as regras da instituição (as escritas e as não escritas), que se estivesse de acordo com as mesmas, e que estas se cumprissem. Sempre que as regras estabelecidas não eram cumpridas, havia lugar a uma penalização, e havia regras cuja penalização era a saída. Discutir se as regras eram justas ou não, e se eram aplicadas da forma correcta, levaria certamente a análises profundas, que não estão no âmbito deste "post".

"[O contacto com as regras da instituição] aconteceu logo no primeiro ano. Tinha havido um caso de expulsão de alunos da Terceira [...]. O CB veio à Primeira, muito no início, e explicou que o caso tinha chegado aos jornais e que alguns alunos tinham feito o impensável ou eram o impensável. Explicou-nos que no Colégio esses comportamentos eram inaceitáveis e que a expulsão era o único caminho possível para quem se atrevesse a cruzar essa linha".

Apesar de não ter "cruzado a linha", o Pedro estava convencido (e provavelmente com razão) de que o simples facto de assumir a diferença seria fatal para a sua permanência no Colégio. "Vivia em estado de alerta permanente. Sabia que tinha que ser extremamente regrado e controlado, nunca discutir o assunto. Lembro-me de uma manhã um camarada vir ter comigo, estava eu no quarto ano, na Terceira, e dizer que eu tinha falado durante a noite. Fiquei absolutamente em pânico e não descansei até, com calma, perceber exactamente o que tinha dito. Mas vivia também com tranquilidade: penso que me habituei ao 'medo', se assim se pode chamar".

"[Como graduado,] houve um caso com uns putos da Primeira que me marcou profundamente e 'esfregou' a minha diferença na cara. As discussões em reuniões de curso foram-me muito, muito duras. Primeiro porque, cobardemente, não pude assumir a diferença - nessa altura já não havia qualquer dúvida na minha cabeça, eu sabia que nome tinha o que eu sentia - e isso custou-me muito. Segundo, por ver e ouvir os preconceitos e desumanidade de um número substancial dos meus camaradas. Não deixei de lutar pelo que achava certo, mas perdi. Foi um momento marcante, e percebi exactamente o tipo de preconceito que tinha que enfrentar na minha vida. Decidi, nessa altura, que queria acabar o Colégio, mas que daí em diante, no resto da minha vida, nunca mais me acobardaria por causa de ser quem sou. Escusado será dizer que faço cedências diariamente... Mas, no essencial, tento respeitar a minha decisão de então".

Continua em "Isto Não Define Quem Sou" (Parte II).

segunda-feira, janeiro 07, 2008

Memórias do Baú CXX - Exercícios Militares


Partida dos "ratas" de 1984/85 para o acampamento.

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quarta-feira, janeiro 02, 2008

Destaques de Novembro e Dezembro de 2007

Este "post" apresenta os destaques do "blog" referentes aos meses de Novembro e Dezembro de 2007.

No tema A Foice em Memória Alheia, foi concluída a série Uma Aula de Condução Sem um Final Feliz.

No tema A Actualidade, e na sequência do artigo Centenário do Nascimento de um Notável Matemático, escrito e enviado para publicação pelo "Bata", foi publicado um "post" sobre a Fotobiografia de António Aniceto Monteiro (Ex-78/1917).

No tema Memórias do Baú, continuam os Exercícios Militares e A Viagem de Finalistas.

Merecem sempre destaque no "blog" o Índice Temático e os Comentários Anteriores.