sábado, fevereiro 21, 2009

Era Uma Vez Um Jornal...

Devo começar por referir que nunca fui um leitor habitual do "Diário de Notícias", mas tinha a imagem de um jornal sério, com um Director e jornalistas responsáveis, que publicam notícias e fazem comentários com base em factos.

Por isso, quando vi na primeira página do dia 18 de Fevereiro o título "Cinco alunos do Colégio Militar internados por excesso de treino", fiquei, antes de mais, confuso. Por um lado, tratando-se de um jornal sério, a notícia teria fundamento; por outro lado, sabendo o que sei sobre a forma como os treinos são limitados para evitar queixas por parte dos pais, e nem sequer quando eram "ilimitados" havia alunos a ir parar ao hospital, não estava a imaginar como é que cinco alunos teriam ido parar ao hospital por causa dos treinos, a não ser que tivesse havido um qualquer outro factor adicional.

O texto não era claro quanto aos motivos, referindo que "a direcção da escola [...] vai clarificar a situação", adiantando no entanto que "esta não é a primeira vez que o excesso de exercício físico obriga ao internamento de alunos". Quantos? Quando? Não interessa. Desde que já tenha acontecido uma vez, nem que tenha sido há 30 anos, a afirmação é verdadeira, e por isso legítima. Mas, como jornalismo, é fraco.

Fiquei sem perceber como é que um assunto destes, numa situação em que "os cinco estudantes já estarão bem e em breve terão alta", justificava uma chamada à primeira página, mas são critérios jornalísticos.

No dia seguinte, 19 de Fevereiro, nova chamada à primeira página, na mesma localização, com o título "Queixas-crime no Colégio Militar". E a peça começava com "Violência.". Aha! Finalmente fez-se luz sobre a chamada à primeira página no dia anterior, que não era mais do que usar a situação como preâmbulo para o regresso aos casos de 2006, traçando um paralelo destinado a insinuar que se tratam de casos de violência. E até cita o Presidente da AAACM, ao qual a jornalista perguntou de vinte formas diferentes se era (em termos genéricos) impossível que houvesse situações de violência entre os alunos do Colégio, e conseguiu arrancar um "onde há crianças e adolescentes é óbvio que há disparates", o que no entender dela, esclarecerá tudo em relação à presente situação. Como jornalismo, é muito fraco.

Lembrei-me do "Público" e do espaço publicitário no canto superior direito da capa, que foi durante muitos anos ocupado pela maçã colorida da Apple. Parece que o "Diário de Notícias" tem o espaço abaixo do título reservado para quem o quiser usar para atacar instituições à escolha, e alguém reservou esse espaço em duas edições consecutivas para atacar o Colégio Militar.

No dia 20 de Fevereiro, novo artigo sobre o tema, agora no interior, porque o espaço na capa deve ser caro e o estrago já está feito. O sub-título diz "mãe de um ex-estudante diz que o filho passou pelo mesmo e que tudo resulta de castigos". A mãe não faz ideia se este caso resulta ou não de castigos, a jornalista também não, mas não faz mal, a mãe afirma que sim e a jornalista publica. Como jornalismo, é muito, muito fraco.

A menos que o Director do "Diário de Notícias" tenha alguma coisa pessoal contra o Colégio, trata-se de uma situação em que está a fazer um "frete" a algum partido, ala de partido ou grupo de pressão que quer prejudicar a imagem do Colégio.

Em relação à imagem que eu tinha de um "Diário de Notícias" sério, é caso para dizer "era uma vez um jornal..."