Era Uma Vez Um Jornal...
Devo começar por referir que nunca fui um leitor habitual do "Diário de Notícias", mas tinha a imagem de um jornal sério, com um Director e jornalistas responsáveis, que publicam notícias e fazem comentários com base em factos.
Por isso, quando vi na primeira página do dia 18 de Fevereiro o título "Cinco alunos do Colégio Militar internados por excesso de treino", fiquei, antes de mais, confuso. Por um lado, tratando-se de um jornal sério, a notícia teria fundamento; por outro lado, sabendo o que sei sobre a forma como os treinos são limitados para evitar queixas por parte dos pais, e nem sequer quando eram "ilimitados" havia alunos a ir parar ao hospital, não estava a imaginar como é que cinco alunos teriam ido parar ao hospital por causa dos treinos, a não ser que tivesse havido um qualquer outro factor adicional.
O texto não era claro quanto aos motivos, referindo que "a direcção da escola [...] vai clarificar a situação", adiantando no entanto que "esta não é a primeira vez que o excesso de exercício físico obriga ao internamento de alunos". Quantos? Quando? Não interessa. Desde que já tenha acontecido uma vez, nem que tenha sido há 30 anos, a afirmação é verdadeira, e por isso legítima. Mas, como jornalismo, é fraco.
Fiquei sem perceber como é que um assunto destes, numa situação em que "os cinco estudantes já estarão bem e em breve terão alta", justificava uma chamada à primeira página, mas são critérios jornalísticos.
No dia seguinte, 19 de Fevereiro, nova chamada à primeira página, na mesma localização, com o título "Queixas-crime no Colégio Militar". E a peça começava com "Violência.". Aha! Finalmente fez-se luz sobre a chamada à primeira página no dia anterior, que não era mais do que usar a situação como preâmbulo para o regresso aos casos de 2006, traçando um paralelo destinado a insinuar que se tratam de casos de violência. E até cita o Presidente da AAACM, ao qual a jornalista perguntou de vinte formas diferentes se era (em termos genéricos) impossível que houvesse situações de violência entre os alunos do Colégio, e conseguiu arrancar um "onde há crianças e adolescentes é óbvio que há disparates", o que no entender dela, esclarecerá tudo em relação à presente situação. Como jornalismo, é muito fraco.
Lembrei-me do "Público" e do espaço publicitário no canto superior direito da capa, que foi durante muitos anos ocupado pela maçã colorida da Apple. Parece que o "Diário de Notícias" tem o espaço abaixo do título reservado para quem o quiser usar para atacar instituições à escolha, e alguém reservou esse espaço em duas edições consecutivas para atacar o Colégio Militar.
No dia 20 de Fevereiro, novo artigo sobre o tema, agora no interior, porque o espaço na capa deve ser caro e o estrago já está feito. O sub-título diz "mãe de um ex-estudante diz que o filho passou pelo mesmo e que tudo resulta de castigos". A mãe não faz ideia se este caso resulta ou não de castigos, a jornalista também não, mas não faz mal, a mãe afirma que sim e a jornalista publica. Como jornalismo, é muito, muito fraco.
A menos que o Director do "Diário de Notícias" tenha alguma coisa pessoal contra o Colégio, trata-se de uma situação em que está a fazer um "frete" a algum partido, ala de partido ou grupo de pressão que quer prejudicar a imagem do Colégio.
Em relação à imagem que eu tinha de um "Diário de Notícias" sério, é caso para dizer "era uma vez um jornal..."
2 comentários:
Citando o Major Vasco Lourenço nos idos do PREC: "arquive-se na casa de banho..."
saudações colegiais
Piscas
436-79
Bem, o jornalismo português na sua generalidade já pouco me diz (especialmente televisivo!) - vejo tendências em tudo, tentativas de induzir nas pessoas factos consumados que não ocorreram bem como querem fazer ver, etc. Em suma, esta gente dos "media" já faz qualquer coisa para aumentar a tiragem nem que seja manipulando, o que tira qual verdade à notícia. Esta é a minha sensação. De facto, o denegrir da imagem do Colégio por parte de pessoas que não fazem a mínima ideia do que ele é (acho que só mesmo quem foi aluno poderá entender a "mística") faz-me eriçar os pelos da nuca e devia levar uma firmezazinha à boa maneira antiga e sair de padiola para a enfermaria e apanhar um daquels cabos maqueiros. No tempo em que lá estive, se viessem a lume as barbaridades que lá se cometiam, nos dias de hoje, essas bestas sedentas de sangue teriam um banquete comparável talvez ao da Casa Pia, embora com contornos diferentes. Mas as crianças e adolescentes sobreviveram, hoje todos estão mentalmente sãos, sem traumas nem necessidade de acompanhamento psicológico, relembram aqueles "pequenos" incidentes como próprios da tradição da casa e muito mais se poderia dizer. Vocês que por lá passaram, sabem ao que me refiro. Quanto a estes rapazes hospitalizados, sinceramente deu-me vontade de rir porque me recordei da azáfama dos preparativos do 3 de Março, as voltas intermináveis ao Estádio da Luz, até à "exaustão", o braço dormente, o matraquear do megafone do comandante da instrução ou corpo de alunos (já não me alembro) aos ouvidos da malta "Ó sr. aluno 999, alinhe pela direita - só por causa disso vão dar mais uma volta". E estes desgraçados lá iam sem pestanajar e ir logo de seguida pegar no telemóvel para dizer à mamã que um senhor mau o tinha obrigado a marchar muito. Ah! E á noite, se fosse preciso, levávamos com uma daquelas firmezas até às tantas, com corrida à volta da parada da companhia, saltando os bancos. Na manhã seguinte apresentação pano-cotim-pano, depois do pequeno-almoço um "biqueiro" no dito cujo por ter as bragas mal arrumadas ou coisa que o valha, depois uma aula de ginástica a "encher"... Bem, já me alonguei demais. Este pais tá todo grosso. Um abraço, rapazes. (mas não é para todos, que há lá uns quantos que me acertaram o passo demais - esses também abusaram)
Alvin
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