quarta-feira, janeiro 20, 2010

Um Prazer Raro

O livro "'Ratas' - Memórias do Colégio de há 50 anos", da autoria do Rui Sá Leal (502/1959), é sem dúvida um prazer raro.

Começando pelo sentido real do termo, há que referir que livro foi escrito por ocasião dos 50 anos de entrada do curso de 1959 e editado através de uma edição de autor, com uma tiragem limitada. Se tiver a procura que merece, rapidamente se esgotará.

O livro descreve, na primeira pessoa, a experiência do autor enquanto "Rata" no ano lectivo de 1959/60, desde as provas de admissão até às "férias grandes".

Ao longo das suas quase 200 páginas desfilam todos os aspectos da vida Colegial, como as tradições, os castigos, a relação com a família, os graduados, os oficiais, os professores, as instalações, as alcunhas, a gíria, enfim, todos os momentos que contribuem para a experiência única que é o Colégio, descritos por um miúdo de 10 anos, numa linguagem simples e agradável.

Para além desta linha de orientação central, o autor descreve também algumas situações que aconteceram nos anos lectivos seguintes e faz um enquadramento da situação que se vivia no País no início da década de 60 do século XX, elemento fundamental para a contextualização das situações relatadas.

O livro contém ainda várias fotografias, reproduções de documentos da época, e um conjunto de ilustrações da autoria do Pedro Massano (487/1958) que retratam com humor vários aspectos da vida Colegial.

E como era o Colégio de há 50 anos? Surpreendentemente parecido com o meu. O mesmo ritmo, os mesmos ideais, a mesma experiência, apenas com (muito) mais formaturas. Reencontrei o Mestre Pina Lopes, o Dr. Cruz Pinto, o Ten. Dario Fernandes, o Cap. Vitória, o Ten. Abranches de Sousa, o Ten. [Mário] Lemos, o Mestre Oliveira (ainda não tinha a alcunha de "Baco")...

Achava eu que havia alguma inovação na criação da Liga Anti-Cavalo (L.A.C.), mas fui surpreendido ao ler que "[...] começavam a despontar alguns indefectíveis candidatos a membros da L.A.Ca., acrónimo da 'Liga Anti-Cavalo', uma espécie de O.N.G. colegial, cujo objectivo era a extinção absoluta da face da Terra de todo e qualquer cavalo [...]".

"[...] Já sabíamos que [...] 'infelicidade', mais que uma tragédia ou um azar, era, no Colégio, uma piada sem graça nenhuma [...]", pode ler-se mais à frente, e eu, que era o "rei da infelicidade", fiquei a saber que esta expressão já tinha pelo menos 20 anos na gíria Colegial.

Uma parte especialmente interessante é a descrição do "braço de ferro" que se viveu entre os alunos e a Direcção em 1962, com greves de fome, suspensões e expulsões. Um exemplo de união onde vários alunos pagaram caro pela defesa dos seus ideais.

Ao ler o livro, voltei a sentir-me outra vez com 10 anos, e também eu percorri de novo cada recanto do Colégio e revi cada experiência. Lê-lo foi um prazer. Um prazer raro, pelas boas memórias que me trouxe.

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