sábado, outubro 19, 2013

Carta Aberta ao Ministro da Defesa Nacional

Exmo. Sr. Ministro da Defesa Nacional,

Como V. Exa. saberá, o seu antecessor iniciou um processo que designou por "Reestruturação dos Estabelecimentos Militares de Ensino (EME)", e que teve como decisões principais a extinção do Instituto de Odivelas e a passagem do Colégio Militar a internato/externato misto.

Como V. Exa. também saberá, esta reestruturação foi proposta por uma comissão da confiança do seu antecessor, alegadamente com base numa proposta da comissão anterior liderada pelo Professor Marçal Grilo, que imediatamente veio a público demarcar-se das decisões e referir que as mesmas não respeitavam o espírito das suas recomendações. A proposta da referida comissão foi convertida em Despacho sem sequer ser apresentada e discutida com as Associações de Pais e Encarregados de Educação, nem com as Associações de Antigos(as) Alunos(as). Estas associações, que são quem melhor conhece as referidas instituições, foram deliberadamente mantidas à parte no processo, não havendo resposta às suas cartas nem aos seus pedidos de audiência.

V. Exa. reconhecerá seguramente o Instituto de Odivelas como uma escola que apresenta resultados académicos excelentes e educa as suas alunas nos princípios da solidariedade e do amor à Pátria. Esta escola vai ser extinta, terminando assim com 113 anos de uma história de sucesso. Aquilo que o seu antecessor designava por "fusão com o Colégio Militar" não é mais do que dar às alunas do Instituto de Odivelas a possibilidade de irem para outra escola completamente diferente; o essencial do Instituto de Odivelas - valores, tradições, características específicas do ensino diferenciado por género, etc. - desaparece por completo.

V. Exa. reconhecerá seguramente o Colégio Militar como uma das instituições de maior prestígio do País. Ao longo dos seus 210 anos de história o Colégio Militar educou milhares de cidadãos que honraram e prestigiaram a Pátria com a sua actuação, incluindo 5 Presidentes da República e centenas de outros reconhecidos na toponímia nacional. O Despacho do seu antecessor "condenou" o Colégio Militar a passar, em apenas 2 anos e sem qualquer preparação, de internato masculino a internato/externato misto com a possibilidade de entrada de alunos internos para o 10º ano, o que está a subverter a forma de funcionar do Colégio Militar, e acabará por desvirtuá-lo completamente, tornando-o numa escola secundária como todas as outras.

A decisão do seu antecessor foi acompanhada por várias medidas vergonhosas, tais como uma campanha que visava criar uma nova marca - Estabelecimentos Militares de Ensino - em vez de aproveitar o reconhecimento e o valor das existentes, a passagem de informações a jornalistas para a elaboração de artigos contra as Associações de Antigos(as) Alunos(as), e até o caricato de receber as Associações ao fim de vários meses de tentativas por parte destas, para lhes reafirmar a sua decisão, sentando-se num plano superior e nem se dignando a olhar olhos nos olhos os seus interlocutores, entretendo-se antes com a sua colecção de 24 canetas Montblanc, numa demonstração de total desrespeito pelos cidadãos que jurou pela sua honra servir com lealdade.

O seu antecessor, pela sua arrogância e incapacidade de ouvir os outros, foi um dos piores Ministros da nossa história democrática.

Apesar de confrontadas com um homem que não luta para servir o País, mas sim para não perder as "guerras" em que entra, faça ou não sentido a sua posição, as Associações de Antigos(as) Alunos(as) nunca baixaram os braços e têm vindo a desenvolver um conjunto de acções cívicas no sentido de apelar ao diálogo e ao bom-senso. Estas acções, apesar de contarem com o apoio e participação de figuras destacadas da sociedade portuguesa, incluindo um ex-Presidente da República, vários ex-Ministros, Oficiais Generais na Reserva, etc., esbarraram sempre na insensibilidade, arrogância e má-fé do seu antecessor, apesar de este se proclamar um grande defensor do Colégio Militar.

Estando agora V. Exa. com a responsabilidade da Defesa Nacional, gostaria de lhe chamar à atenção para a importância de resolver este problema. Não lhe peço que tire as meninas do Colégio Militar, ou qualquer outra medida de carácter avulso; apenas lhe peço uma coisa que era impossível com o seu antecessor: diálogo. Peço-lhe que dialogue com as Associações de Antigos(as) Alunos(as) e com as Associações de Pais e Encarregados de Educação de ambas as instituições para que se procure a solução que sirva melhor os interesses de médio/longo prazo do País, sem dogmas de qualquer espécie, sem pré-condições, sem outros interesses que não sejam os de lutar pela sustentabilidade das instituições, pela excelência do ensino e pela formação de cidadãs e cidadãos válidos.

Com os melhores cumprimentos e votos de um excelente mandato,

Pedro Chagas

Antigo Aluno n° 357/1977 do Colégio Militar

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