sexta-feira, outubro 25, 2013

Não Recomendável

A Ordem dos Arquitectos considerou Não Recomendável o "Concurso Público para a Aquisição de Serviços para Elaboração do Projecto de Execução para a Construção do Edifício para Internato Feminino no Colégio Militar e outras Instalações de Apoio". Considerou a Ordem que "o procedimento contém dissonâncias quanto à interpretação da legislação aplicável" (link).

Parece que este processo de reforma dos Estabelecimentos Militares de Ensino (EME) não consegue ter mesmo nada que seja recomendável.

Por falar em "dissonâncias"...

Em 2011 o Ministro da Defesa Nacional (MDN) veio à Abertura Solene e fez um discurso amplamente elogiado, que até teve honras de um "Zacatraz". Sei que o autor da iniciativa "carrega essa cruz", mas é uma cruz injusta, porque a maioria dos Antigos Alunos presentes acreditou que agora é que era, agora é que íamos ter um Ministro que ia definir connosco uma solução de futuro para o Colégio.

Os críticos diziam "atenção que ele é um político, diz uma coisa hoje e faz outra completamente diferente amanhã", mas, que raio, porque haveria de um Ministro vir fazer um discurso daqueles se não tinha a intenção de o concretizar? Não precisava de se ter comprometido, bastaria ter feito o "discurso de circunstância nº 23" e ninguém o censuraria...

Veio a comissão presidida pelo Professor Marçal Grilo, que tratou os Antigos Alunos com respeito, embora tenha proposto uma solução diferente da que preconizávamos. Ainda assim, havia uma boa base de entendimento e alguns temas para trabalhar.

Veio então uma nova comissão, presidida por um Professor do Porto que aparentemente tinha curriculum na área da educação, mas que o mais perto que tinha estado do Colégio Militar tinha sido quando vinha a Lisboa e passava na 2ª Circular. Recebeu a AAACM e foram-lhe entregues os documentos dos trabalhos que a AAACM desenvolve há mais de 10 anos sobre o futuro do Colégio.

E a seguir veio o "manto de silêncio". De repente, os telefonemas deixaram de ser atendidos e as cartas deixaram de ser respondidas. O Professor "eclipsou-se".

E, perante o silêncio, surgiu a especulação. "Será medo? Vai decidir uma coisa contra nós e por isso evita-nos? Será estupidez? Não percebe que o podemos ajudar e que é importante que discuta a solução connosco? Será malícia? Recebeu um telefonema do Grão-Mestre e agora anda a 'tourear-nos'? Será arrogância? Acha que ele é que sabe, e que não precisa de nós para nada?" Não sei qual ou quais os factores que se aplicam, nem com que peso, mas sei que uma pessoa frontal, honesta e leal não deixa telefonemas nem cartas por responder, responde mesmo que as notícias não sejam boas; aliás, responde sobretudo se as notícias não forem boas.

Do lado do poder político, o mesmo silêncio. O "nosso amigo da Abertura Solene" também nos ignorou. A dissonância com o discurso da Abertura Solene de 2011 era total.

Até que, finalmente, houve notícias! Do outro lado da barricada surgiu a convocatória para uma reunião, mas foi para comunicar aos Antigos Alunos as conclusões da comissão, para nos dizerem o que determinaram fazer ao nosso Colégio. E discutirem connosco, ouvirem a nossa opinião sobre a proposta, ouvirem os nossos alertas? "Temos pena...". E discutirem com a Associação de Pais e Encarregados de Educação? "Temos pena..." E discutirem com as Associações representantes do Instituto de Odivelas, cujo encerramento foi decidido? "Temos pena..."

Dizem-me as pessoas que "a política é mesmo assim..." Cobardia? Estupidez? Malícia? Arrogância? É isto a política? Pois, assumo que sou ingénuo. E pouco observador, porque conheço algumas pessoas na política que não me parecem ser assim.

Depois foi o que se sabe: o vídeo feito a promover a "marca branca" dos EME, em vez de explorar o valor das marcas actuais, os artigos no Diário de Notícias dos nossos "jornalistas de estimação", sempre com informações "frescas" de fontes seguras, e, já depois da campanha do "Porquê?" da AAACM, as insinuações por parte do MDN quanto à origem do dinheiro, o artigo do "Fazer História" da Secretária de Estado, a audiência só para "cumprir calendário", etc.

Esperemos que a história não acabe assim, porque o Colégio Militar e Portugal merecem muito melhor.

Quanto ao concurso Não Recomendável, é mais um exemplo da forma pouco séria e pouco profissional como esta reforma tem vindo a ser gerida. Os próximos passos que consigo antever são: um atelier Não Recomendável vai ganhá-lo de forma Não Recomendável, e seguir-se-á outro concurso Não Recomendável para a construção do edifício, que será ganho também de forma Não Recomendável por uma construtora Não Recomendável.

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