quinta-feira, outubro 19, 2006

Os Alunos Fazem o Colégio

Este texto foi publicado pelo Jags como comentário num canto obscuro deste "blog" (No Divã da "Enferma": O Botão Encarnado). Como nem todos os visitantes têm paciência para explorar os cantos do "blog", e muito menos os obscuros, achei por bem puxá-lo para a luz, com a devida vénia.

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Na reunião dos 25 anos de entrada do Curso de 1977/85, em 2003, houve um breefing no Auditório, em que foi visionado um CD relembrando fotograficamente muitos e variados momentos do Curso, e também foi visionado em vídeo, uma intervenção de uma Sra. Deputada do PP na Assembleia da Republica, (que me perdoe por já não me lembrar do seu nome), evocativa da Comemoração dos 200 anos da Fundação do Colégio Militar.

Nessa intervenção, a Sra. Deputada - por sinal, mãe de dois alunos do CM - referiu a dado passo que o Colégio é auto-regulador e auto-regulado.

Ou seja, possui e possuirá sempre, as ferramentas humanas e de qualquer outro âmbito, necessárias e suficientes, para se auto-equilibrar, auto-preservar, auto-modernizar.

Essas ferramentas éramos nós, eram os camaradas que nos antecederam, são os camaradas que actualmente cumprem o seu tempo e marcham pelo Colégio.

... e serão inevitavelmente os futuros camaradas que tenham a coragem de querer pertencer ao Colégio - porque é tanga, aquela velha história de “o meu pai obrigou-me a vir para o Colégio”; só entrou e entra, quem quis ou quer - optimisticamente sentindo que serão bastantes em tempos vindouros, após o Colégio conseguir atingir um novo equilíbrio e posicionamento na Sociedade e Cultura Portuguesas.

Os alunos fazem, sem dúvida, o Colégio.

Chegou-se a ouvir dizer: “Os graduados fazem o Colégio.”

Talvez seja mais avisado considerar que TODOS os alunos - e não só os graduados - caracterizam num dado momento, e moldam e transformam o Colégio.

Bons, maus, fortes, fracos, básicos, sofisticados, cosmopolitas, provincianos, castiços, fleumáticos, ecléticos, desportivos, redondos, quadrados, brancos, pretos, activos, pró-activos, todos por um... sentimento comum.

O de, por um breve período da sua vida, ainda que talvez o mais importante na formação de um carácter, pertencerem a uma comunidade de irmãos, uma élite e uma mole humana, ligados pela necessidade, pela amizade, pela proximidade, pelo exemplo, pela honra, pela defesa de valores e pelo inevitável, e muitas vezes tortuoso, processo de crescimento.

Por outro lado, os irmãos, por mais próximos que sejam, também se batem, sofrem, se odeiam por vezes, discutem, discordam, debatem, competem....é o carácter dualista das relações fortes.

Quem lê diários, Calixtos, livros, sebentas, ordens de serviço, até os gatafunhos das portas das casas de banho, e outros documentos, sobre a vida colegial em meados do Século XIX, no início do Século XX, nas décadas de 1940-60, nas décadas de 1970-90 e na actualidade, encontra sem margem para dúvidas, realidades completamente diferentes.

No entanto, realidades ligadas por um conjunto de valores comuns, pelo menos a partir de um dado período (início do Século XX) em que o Colégio Militar revelava já alguma maturidade e estabilidade, como instituição.

Mas foram os Alunos que, pouco a pouco, foram gerando esse conjunto de valores. Com as boas e más experiências que acumulavam durante os períodos em viviam, o, e no Colégio. Porque se vivia o Colégio, e no Colégio.

Quando alguém de fora perguntava: De onde é que tu és? Onde é que vives? A primeira reacção instintiva seria dizer: Lisboa, Largo da Luz. Mas depois, racionalmente, verbalmente, corrigia-se para a morada de família.

Não confundir valores, com tradições.

Há boas e há más tradições no Colégio, e isto tem de ser dito, como as há no universo universitário, no mundo empresarial, no seio da Cultura e da Família, portuguesas - como células que são, da Sociedade.

Os valores do Colégio Militar são reconhecidamente válidos em todo o Mundo, de tal forma que muitas outras instituições de Educação Militar e Internatos não-Militares, em Portugal, e pelo Mundo fora, fundadas à posteriori do CM, adoptaram grande parte dos princípios, valores e apanágios que o caracterizam. Foi um "plágio" positivo. Que só nos deve merecer motivo de orgulho.

As tradições, nem todas são positivas, como aliás é de compreender. São de respeitar, até certo ponto, desde que não retirem ou depreciem a dignidade de quem as cumpra, ou seja por elas afectado.

Não confundir, por seu lado, tradições, com práticas.

A contribuição da Tradição e os valores, são como que, a Estratégia.

As práticas, são a Táctica.

Ora o Colégio assistiu a muitas adaptações filosóficas e não filosóficas, da teoria da Táctica - ou seja da aplicação prática dos valores de vivência em colectivo, educação, disciplina, espírito de corpo, camaradagem, patriotismo e cidadania.

Uma boas, outras aceitáveis, outras más, e outras deploráveis.

Julgo que ficou suficientemente ilustrado os resultados de más práticas - más Tácticas - afinal de contas, até porque na maioria das vezes, os resultados das mesmas, eram nulos ou quase nulos.

É esse o objectivo e o interesse de as expor. As boas e as más.

Porquê só as boas? Por acaso o mundo, cá fora, é um mar de rosas? Não, longe disso.

Mesmo que se conseguisse criar um Colégio utopicamente perfeito em termos de educação e práticas, será que isso, por si só, prepararia convenientemente um adolescente para entrar no mundo real, no maquiavélico mercado empresarial, na selva universitária, ao chegar aos 18 anos ao pára-raios da Cúpula e começar a “ver por cima do muro”?

Acordar consciências, relembrar esquecimentos, orientar agentes decisores, encorajar vocações, novas formas de servir, e, de dialogar.

Registe-se.

2 comentários:

Anónimo disse...

Olá a todos! A agora ex-deputada, que é a minha mãe, chama-se Isilda Pegado, na altura tinha 3 filhos no Colégio, e era deputada do PSD. Aquando do discurso na Assembleia da República, estava presente uma delegação de alunos do Colégio, da qual eu fazia parte, e que foi aplaudida por todos os deputados (até mesmo os do PS, CDU e BE).

Um abraço!

Anónimo disse...

Só me lembro que era uma mãe jeitosa... ;-)

(Ai que saudades da "tradição" colegial de falar das mães uns dos outros...)

Pedro Chagas
357/77