O Orfeão Colegial
O Orfeão Colegial era, na minha opinião, uma "elite", pela missão de representação do Colégio que desempenhava, geralmente com grande sucesso.
Porque é que eu não o referi, juntamente com as outras "elites", na série As Elites da Elite? Simplesmente porque este estatuto estava longe de ser consensual - antes pelo contrário: para muitos alunos, pertencer ao Orfeão era um "mal necessário", e só enquanto era mesmo necessário.
Num meio exclusivamente masculino, em que os referenciais de atitude eram dados pelos "12 Indomáveis Patifes" e "Os Gansos Selvagens", cantar "Minha Amora Madurinha", "Ó Cigarra, Cigarrinha" ou "Cuidadosos os Burrinhos" não era propriamente compatível.
Por isso, a "malta" mais "rufia" fazia tudo para não ser seleccionada para o Orfeão, o que incluía cantar o pior possível nas audições feitas pelo Padre Miguel. Quem era seleccionado, fazia muitas vezes o papel de "ai que frete" para não "ficar mal na fotografia".
O Padre Miguel tinha, na minha opinião, muito pouco de padre. Apesar da forma de aplicar castigos, cujo rigor e força denunciava claramente a frequência de um seminário no tempo do antigo regime, nunca o vi celebrar nenhuma missa nem lhe identifiquei grandes características de "pastor de almas". Também me parece que tinha pouco de professor de música; ensinar colcheias e semicolcheias a "putos" de 10 anos parecia não ser coisa que o motivasse muito. O Padre Miguel era, isso sim, o Maestro Miguel Carneiro, especialista na formação e ensaio de grupos corais, trabalhando primeiro cada cantor de forma individual, depois pequenos grupos, e finalmente todo o conjunto, até atingir o resultado desejado. E, nesta função, ele era de facto excepcional.
O Orfeão Colegial deixava uma excelente impressão em todos os locais onde actuava, com o seu repertório que incluía músicas de uma grande variedade de estilos e épocas, e cantadas em várias línguas: Português, Francês, Inglês, Italiano e Castelhano, incluindo variantes medievais de algumas destas línguas.
Guardo recordações espectaculares dos meus anos de participação no Orfeão, nomeadamente:
1) Na gala dos 175 anos do Colégio, cantar o Hino do Colégio e o Hino Nacional a quatro vozes. Inesquecível. Nunca mais ouvi o Hino Nacional tão bem cantado como nós o cantámos.
2) Nas missas do "3 de Março", na Igreja de S. Domingos, cantar com uma pequena orquestra de cordas (que fazia apenas um ensaio connosco). Divino.
O Padre Miguel Carneiro marcou uma época no Orfeão Colegial. Tenho orgulho em ter feito parte dessa época.
2 comentários:
E tu não apanhaste a do "Pedro, Tiago e João... num barquinho!".
;)
Entrei no orfeão logo no 1º ano, mas saí (da 1ª voz) antes do 3 de Março. Depois voltei no 4º ano, até ao "pós-3 de Março" do oitavo.
Só não passei pela 3ª voz, que eram os que mais "brilhavam"...
Malditas horas supostas de desporto enfiados no auditório a treinar, mas muito orgulho nas representações variadas, nomeadamente uma na Sociedade de Geografia de Lisboa".
Recordo-me sobretudo da experiência Orfeão enquanto formadora do carácter.
Enquanto putos, pois aprendíamos na relação directa com os alunos mais velhos do Colégio, e equanto mais velhos, porque era uma boa forma de introdução à liderança e ao enquadramento dos mais novos...
Um abraço!
O link não correu bem, mas aqui fica para se ver o aspecto da sala:
http://socgeografia-lisboa.planetaclix.pt/
Errata: enquanto mais velhos
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