No Divã da "Enferma": "As Minhas Crianças"
Fim do 8º ano. Ia deixar de pisar as pedras dos Claustros, deixar de usar a farda cor-de-pinhão, etc, etc, etc, mas para tudo isso eu já estava preparado. A vida é feita de ciclos, e eu já me tinha consciencializado de que havia um que estava a terminar e outro que estava a começar, e que a melhor forma de encerrar bem um era começar bem o outro.
Mas havia uma coisa para a qual eu não estava completamente preparado: deixar de ser graduado.
Durante vários meses convivi com aqueles a quem eu me referia (e me refiro ainda) como "as minhas crianças". Receber umas dezenas de "ratas", miúdos assustados e ingénuos, e transformá-los em "Meninos da Luz", foi das tarefas mais gratificantes que já realizei na minha vida. Quando eu for emocionável (inevitavelmente, com a idade, isso vai acontecer), esta memória será certamente uma das que mais me vai emocionar.
Terminado o ano lectivo, o que estava feito, estava feito... Imaginava o que faria se tivesse a oportunidade de voltar a ser graduado: seria certamente "o melhor graduado do mundo"... Puro engano. Acima de tudo, há que trabalhar em equipa, e quanto mais um graduado procura destacar-se dos outros pela positiva, mais contribui para a quebra do trabalho em equipa.
Acima de tudo, angustiava-me a quebra abrupta de ligação às "minhas crianças". Terminado o ano lectivo, eles iriam para férias; quando voltassem, no início do ano lectivo seguinte, teriam novos graduados, e depois outros, e mais outros... tudo isto, conjugado com a política colegial de "ex-alunos? não, obrigado", levava a uma conclusão inexorável: ia perder "as minhas crianças" para sempre.
E perdi.
E tinha mesmo que perder.
O modelo do Colégio é mesmo assim. Para que todos os cursos de graduados tenham a possibilidade de desenvolver o seu trabalho e deixar a sua marca nos alunos mais novos, num trabalho de continuidade, os graduados antigos têm que "sair do caminho". Não precisam de "desaparecer do mapa" (nem convém que o façam, pois é importante para os alunos mais novos perceberem que os princípios que lhes foram transmitidos estão a ser aplicados com sucesso fora do Colégio), mas precisam de deixar o espaço de liderança e formação ao curso seguinte, tal como o receberam do curso anterior, sem "superioridades morais" nem conselhos "paternalistas".
No meu tempo, isto era uma inevitabilidade.
E se não fosse?
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Comentário acrescentado em Outubro de 2014: este post foi inspirado num graduado que teimava em não deixar de o ser, prolongando o seu comando nos anos seguintes através da "blogosfera". Há um tempo para ser graduado, e um tempo para deixar os outros serem graduados.
Mas havia uma coisa para a qual eu não estava completamente preparado: deixar de ser graduado.
Durante vários meses convivi com aqueles a quem eu me referia (e me refiro ainda) como "as minhas crianças". Receber umas dezenas de "ratas", miúdos assustados e ingénuos, e transformá-los em "Meninos da Luz", foi das tarefas mais gratificantes que já realizei na minha vida. Quando eu for emocionável (inevitavelmente, com a idade, isso vai acontecer), esta memória será certamente uma das que mais me vai emocionar.
Terminado o ano lectivo, o que estava feito, estava feito... Imaginava o que faria se tivesse a oportunidade de voltar a ser graduado: seria certamente "o melhor graduado do mundo"... Puro engano. Acima de tudo, há que trabalhar em equipa, e quanto mais um graduado procura destacar-se dos outros pela positiva, mais contribui para a quebra do trabalho em equipa.
Acima de tudo, angustiava-me a quebra abrupta de ligação às "minhas crianças". Terminado o ano lectivo, eles iriam para férias; quando voltassem, no início do ano lectivo seguinte, teriam novos graduados, e depois outros, e mais outros... tudo isto, conjugado com a política colegial de "ex-alunos? não, obrigado", levava a uma conclusão inexorável: ia perder "as minhas crianças" para sempre.
E perdi.
E tinha mesmo que perder.
O modelo do Colégio é mesmo assim. Para que todos os cursos de graduados tenham a possibilidade de desenvolver o seu trabalho e deixar a sua marca nos alunos mais novos, num trabalho de continuidade, os graduados antigos têm que "sair do caminho". Não precisam de "desaparecer do mapa" (nem convém que o façam, pois é importante para os alunos mais novos perceberem que os princípios que lhes foram transmitidos estão a ser aplicados com sucesso fora do Colégio), mas precisam de deixar o espaço de liderança e formação ao curso seguinte, tal como o receberam do curso anterior, sem "superioridades morais" nem conselhos "paternalistas".
No meu tempo, isto era uma inevitabilidade.
E se não fosse?
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Comentário acrescentado em Outubro de 2014: este post foi inspirado num graduado que teimava em não deixar de o ser, prolongando o seu comando nos anos seguintes através da "blogosfera". Há um tempo para ser graduado, e um tempo para deixar os outros serem graduados.
6 comentários:
Tenho uma forte sensação de dejá vue :-)
Et où as-tu déjà vu ça?
Je comprends maintenant: j’avais deux fois le même "post"...
O Pêquito, ou o Laurent, ficariam orgulhosos de ti... :-)
o pêquito!!!
...que figura relembrada aqui, depois desta manifestação em pleno de todas as potencialidades do elemento em causa (tu), que reflecte que o pêquito fez um bom trabalho, não deixa de ser mais um figurão da história do CM (ele)...não fui teu Rata, entrei em 1985, justamente quando tu e os teus colegas graduados disseram adeus ao CM, mas já ouvi muito de ti e li aqui ainda mais, pelos vistos terás sido uma boa marca no pessoal de 84, com quem lidei e de quem recebi pessoal que chumbou, sou leitor do que escreves, agradeço o teu contributo e relembro-te que podes continuar, pois somos nós todos, que andámos no CM (uns mais tempo que outros) que podemos manter viva a sua alma... 1 abraço, Raizes 255/85
Espero que eu e os meus camaradas tenhamos deixado uma marca positiva nos "ratas" de 1984, mas não os educámos até ao fim, simplesmente porque não nos competia.
Este "post" não é um lamento pessoal, mas um elogio ao modelo do Colégio. "Fizeste o teu trabalho? Óptimo, agora dá o lugar a outro e não interfiras com o seu trabalho".
Se procurarmos fazer o nosso melhor trabalho enquanto graduados, mesmo fazendo algumas asneiras, não "perdemos" nunca as nossas "crianças".
Agradeço as tuas palavras de incentivo, que aliás já deixaste em outras ocasiões (nas quais eu não tive o cuidado de agradecer).
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