Fotobiografia de António Aniceto Monteiro (Ex-78/1917)
Ouvi falar pela primeira vez em António Aniceto Monteiro através do "Bata", que me referiu estar a fazer um levantamento dos ex-alunos que se distinguiram na área da Matemática. Na altura, referiu-me que António Aniceto Monteiro era considerado por muitos o matemático português mais importante do Séc. XX, e que a Sociedade Portuguesa de Matemática estava a preparar um trabalho para comemorar os 100 anos do seu nascimento.
Por isso, foi com grande expectativa que abri o livro "António Aniceto Monteiro - Uma fotobiografia a várias vozes", que chegou às minhas mãos poucos dias depois do lançamento oficial.
O primeiro contacto com o livro deixa imediatamente perceber que a dimensão de António Aniceto Monteiro extravasa a do universo da matemática: a capa contém a reprodução de um retrato do matemático feito por Arpad Szenes no Rio de Janeiro.
Uma análise em maior profundidade mostra uma cobertura de todos os aspectos da vida pessoal e profissional de António Aniceto Monteiro, começando pelos seus pais, passando pela sua frequência do Colégio Militar e analisando com detalhe cada uma das fases da sua vida e da sua carreira.
Uma das facetas importantes é a da sua oposição ao "Estado Novo", sendo que a recusa em assinar uma declaração de integração "na ordem social estabelecida" lhe valeu a impossibilidade de ser funcionário público, o que acabou por ditar a sua saída para o estrangeiro.
Não resisto a reproduzir uma citação (pag. 88) de um texto do Armando Girão (ex-426/1917):
"Procurei o Aniceto e assim me esforcei por demovê-lo, não só por ele, que necessitava de ganhar a vida, mas na plena consciência de que o Instituto Superior Técnico perdia um mestre de altíssima craveira.
Perante a teimosia do Aniceto, perguntei-lhe por fim se ele afinal era comunista e por isso não assinava o papel. E logo o Aniceto retorquiu: 'não sou comunista nem acredito que venha a sê-lo, mas a declaração diz que não sou nem serei, e não aceito limitações à minha inteligência'.
Grande Menino da Luz, foi esta a lição que o Aniceto me deu e que nunca mais esqueci".
Considero que esta fotobiografia é excelente, e que o trabalho é mais valioso ainda se se tiver em conta de que o público-alvo é limitado (a tiragem é de 1.500 exemplares).
Por isso, se forem à FNAC (uma das livrarias que vende esta obra), não percam a oportunidade de conhecer melhor um ex-aluno que, pela sua carreira e pela forma como lutou pelas suas convicções, foi agraciado, a título póstumo, com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Santiago da Espada.
Entretanto, não deixem de ler o artigo "Centenário do Nascimento de um Notável Matemático" e de visitar o "blog" dedicado a António Aniceto Monteiro.
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