Sozinho em Casa (Parte I)
Numa noite de Dezembro, dirigi-me ao Colégio para participar no Jantar de Natal da AAACM.
Cheguei por volta das 19h00 e, como o jantar estava marcado para as 20h30, resolvi ir dar uma volta até ao Corpo de Alunos para reavivar memórias antigas.
Atravessei o "Jardim da Enferma", completamente às escuras. Vieram-me à memória as inúmeras vezes que o atravessei num sentido e no outro, com diferentes emoções. Recordei em especial o banho no lago no último dia de aulas, e a última vez que o atravessei fardado de pano(*).
Passei pela "Enferma", também completamente às escuras. Será que alguém ainda fica doente na "Enferma"?
A parada também estava completamente às escuras. Há claramente uma intenção de poupar energia.
Ao chegar à frente do Corpo de Alunos, verifiquei na prática o que já me tinha sido dito: os velhos caixilhos de ferro foram substituídos por caixilhos de alumínio, e os vidros transparentes deram lugar a vidros foscos.
No meu tempo de Colégio, os vidros eram transparentes, mas não víamos para além deles, nem éramos vistos através deles.
Quando olhávamos para eles, não víamos mais do que o nosso reflexo, umas vezes com olhar fosco, à espera do fim da "ladainha" dos Graduados, outras vezes com olhar de vítima, outras ainda com olhar de juiz.
Nunca tive evidências de que o "mundo exterior" conseguisse ver através dos vidros, e terá havido uma dúzia de vezes em que desejei ardentemente que houvesse alguém ou alguma coisa do outro lado do vidro, para além do meu reflexo.
Nunca nenhuma decisão foi tomada em função da transparência ou opacidade dos vidros; nunca nada foi ocultado do exterior, porque a sociedade era fosca o que se passava no Colégio só ao Colégio dizia respeito.
Actualmente os vidros são foscos, mas a visão a partir do exterior é cristalina. Qualquer coisa que se passe no Colégio é imediatamente vista pelos pais, pelos respectivos advogados e pelas muitas autoridades relacionadas com crianças. É muito mais difícil ser Graduado. Aliás, é impossível ser Graduado.
Em relação ao Corpo de Alunos, é caso para dizer "vidros transparentes numa sociedade fosca, e vidros foscos numa sociedade transparente".
Mas voltemos à narrativa: entrei no Corpo de Alunos, "fintei" o Oficial de Dia e fui pelas escadas acima em direcção à Primeira.
Continua em Sozinho em Casa (Parte II).
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(*) De facto, houve três vezes em que achei que era a última vez: no fim dos Exames Nacionais do 8º ano, no fim do Curso de Pára-quedismo, e após uma consulta no dentista a que tive que ir por causa de uma massa que caiu.
1 comentário:
Estava a ver que nunca mais voltava a ler as tuas crónicas.
1 abraço e bom Natal
Tchonca 252-77
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