domingo, novembro 01, 2009

A Cobardia (Parte I)

Detesto a cobardia.

Poucas coisas há que me revoltem mais do que alguém a abusar de uma posição de força para atacar alguém, seja entre dois miúdos no recreio da escola, entre dois jovens num bar, entre um superior e um subordinado no local de trabalho, entre elementos de um casal, entre o autor de uma carta ou de um blog anónimos e as pessoas a que se referem - seja como for, com quem for e em que circunstâncias for.

Para mim, cobardia não é a parte mais fraca fugir para evitar uma situação de confronto com a parte mais forte; cobardia é a parte mais forte provocar uma situação de confronto com a parte mais fraca precisamente porque a outra parte é mais fraca e não se consegue defender. E quando o mais fraco foge, porque é fraco mas não é estúpido, o cobarde acaba a chamar-lhe cobarde. É irónico.

O Colégio repudia e sempre repudiou a violência. Quando eu era aluno, uma situação em que um aluno abusasse de uma posição de força sobre outro era designada por "despotismo", o que para a Infopedia é (1) forma de governo absoluto e discricionário, em que o poder é exercido por alguém cuja vontade não é regulada por lei, (2) mando absoluto e arbitrário, (3) acção própria de um déspota e (4) prepotência. O autor do "despotismo" era chamado de "despotista", palavra que só existia na gíria colegial, e a sua conduta era reprimida a todos os níveis.

Alguns antigos alunos são acusados de, enquanto alunos, terem praticado actos de violência sobre colegas mais novos. O assunto está em segredo de justiça, e todas as pessoas são inocentes até o Tribunal os condenar (ou, se tiverem dinheiro e influência, até o Supremo Tribunal confirmar as decisões das instâncias inferiores), mas tudo isso parece ser irrelevante para os órgãos de comunicação social, que se "atiram ao Colégio" como lobos esfaimados.

Cobardia dos alunos mais velhos, dizem.

E o que dizer de quem:

1) Viola o segredo de justiça, publicando o que lhes interessa publicar.

2) Ataca entidades que respeitam o segredo de justiça, estando assim incapazes de utilizar os factos do processo para se defenderem das acusações.

3) Ouve opiniões das diversas teses em confronto, mas selecciona e publica apenas as que interessam para provar o seu ponto de vista.

4) Utiliza meios de grande alcance para divulgar a sua mensagem.

5) Em resumo, tira partido da sua força para atacar uma entidades que não tem acesso aos mesmos meios e que não usa os mesmos métodos à margem da lei.

O que dizer? Numa palavra: cobardia.

Alguns jornalistas e órgãos de comunicação social combatem a alegada cobardia de uma forma cobarde. Não lhes interessa ouvir as partes e dar uma visão imparcial dos acontecimentos, para que os destinatários decidam, o que lhes interessa é arranjar alegações que comprovem as suas teses os as dos grupos que apoiam, sejam partidos políticos, movimentos sociais, ou outros.

Eu próprio fui contactado por uma jornalista por causa deste blog, mas como as informações que lhe dei não comprovavam a teoria que queria demonstrar, nada foi publicado. Em contrapartida, um "vestígio de sangue" com 26 anos que se encontra no blog foi cuidadosamente hidratado e servido como fresco num "cocktail" que junta todas as alegações negativas que a jornalista conseguiu encontrar.

Felizmente que jornalista ainda não é sinónimo de cobarde, mas não seria má ideia que os jornalistas com princípios começassem a fazer alguma coisa pela defesa da imagem da classe.

Neste momento devíamos estar todos tranquilos à espera do fim dos processos para que se fizesse justiça e depois tirarmos as conclusões possíveis, mas alguma comunicação social regala-se num festim de alegações e julgamentos antecipados, e os alunos e a imagem do Colégio sofrem diariamente. Os alunos do Colégio têm um regulamento de justiça que os pune quando falham; quem pune os actos de cobardia dos jornalistas e dos órgãos de comunicação social?

Quanto tempo isto vai durar? Qual vai ser o preço a pagar?

6 comentários:

33 disse...

chagas,

quando li a notícia fiquei com a sensação, agora confirmada, que o "jornalista" que escreveu aquilo aproveitou-se de algo que não era dele; o teu blog, ainda por cima apenas da parte que lhe interessava.
este tipo de malta, que cada vez mais representa a classe jornalística, é uma espécie de "prostituta das novidades", vendem-se por qualquer coisa.
não sei se existe uma associação profissional de prostitutas, mas se existir, deveriam criar uma secção para esta escumalha que que sofre de "disenteria cerebral" e claro, só escreve estas borradas.

PS: sr autor da borrada publicada na visão, se por acaso voltar a ler o blog, gostava de colocar-lhe uma questão.
isto tema lgum significado para si?
artigo 1.º do Código Deontológico, «o jornalista deve relatar os factos com rigor e exactidão e interpretá-los com honestidade. Os factos devem ser comprovados, ouvindo as partes com interesses atendíveis no caso. A distinção entre notícia e opinião deve ficar bem clara aos olhos do público»
é só o 1º artigo...

Anónimo disse...

Imaginemos uma eventual entrevista,

...o que disser poderá ser muita coisa; Histórias mirabolantes fruto da minha imaginação psicadélica; relato verídico e devidamente condimentado com personagens mais ou menos fictícias ou adaptadas; um documentário realista e exaustivo, há para todos os gostos...

A transparência desprendida de objectivos, que não sejam o apuramento da verdade e factos aberrantemente contrários às normas de vivência em Sociedade, é de louvar.

A transparência enviesada, obsessiva, tendencial, facciosa destrutivamente interessada, é uma tirania, como outras formas de opressão e abuso de poder.

Quem prevaricou, abusou da autoridade que lhe foi outorgada, foi caso isolado, e que vá para a rua, ou seja demitido ou expulso do CM, ou do Exército, ou do Governo. Quem se manteve correcto, não deve ser prejudicado nem enxovalhado. Separe-se o trigo do Joio, assumam-se as culpas onde as houver que assumir. O CM só tem a ganhar com isso.

Existe um Regulamento de Disciplina Interno do Colégio, baseado no Regulamento de Disciplina Militar, adaptado à realidade e funcionalidade colegial. Esse regulamento, embora passível de críticas e actualizações a recomendar, é, na sua generalidade, justo e civilizado.

Tudo o resto, era código obscuro e discricionário. Como em qualquer sociedade ou mini-sociedade fechada.
Não era lei, não era geral, nem regra, não era justo nem era sequer encorajado. Não estava escrito em nenhum manual, nem estava preconizado em nenhuma directiva ou conselho de quem quer que seja.
Não era sequer, e isto é real, discutido entre quem o aplicava.
Não se sabia bem de onde tinha vindo nem quem tinha inventado.

Poderia ser um código socialmente correcto, humano. E era-o em espírito, não o era na prática, devido à tentação, ao desleixo e à banalização e consequentes abusos do mesmo. Por outro lado, esse código era necessário, porque o tal sistema fechado não funcionava sem elas no seu estado de maturidade, à altura.

Simplesmente, não funcionava.

Tive a oportunidade de tentar aplicar um código alternativo a nível local (ou seja, num grupo restrito de indivíduos ) e não funcionou, pelo contágio a que os restantes os expunham.

Todos os intervenientes, desde alto a baixo, desde o aluno ao pai do aluno, desde o Sargento ao General, desde o Professor ao Médico, desde o Fâmulo que limpava o geral, ao soldado que limpava as bostas dos cavalos, desde os vários Ministros da Educação ou da Defesa, aos vários Presidentes da Republica, tinham conhecimento de como o sistema funcionava. Todos.

Essa é a verdade. Por mais que não consigam agora engolir, digerir e expulsar (eufemisticamente) a verdade cá pra fora.

À luz da sociedade da década de 30-40-50, do Século XX, o sistema funcionava.

Durante o Séc. XIX e no início do Séc. XX, o sistema e o código de conduta eram bastante diferentes... mais Aristocrata, mais British! Era uma instituição que nesse período só recebia como alunos, os filhos da nata Aristocrática e Burguesa, civil e militar, da Sociedade, desde filhos da Realeza aos dos mais altos dignatários da altura.
O elevar da burguesia e classe média no início do Século XX, um maior equilíbrio entre as classes sociais e consequente diminuição de estatuto, nível social, cultural e económico do aluno médio, retirou alguma da elegância, e altivez ao código de conduta colegial. Nesse período, os alunos do CM, eram equiparados socialmente a oficiais do Exército, aliás quase todos viriam a ser os futuros comandantes das forças militares e políticas. Alguns, eram convidados e recebidos na Corte Real, apenas por serem alunos do Colégio, que até se designava por RCM - Real Colégio Militar.

Hoje em dia, ambos os códigos não escritos de conduta, nem um nem outro, funcionam.

Não na geração da Banda Larga, Internet, dos 400 canais de TV, iPOD, iPhone, e do "não me toques que me desafinas o aparelho dos dentes"...

401/77 - Fózi - João Simões
(Continua já a seguir)

Anónimo disse...

Ex-alunos, alunos, familiares, funcionários e ex-funcionários, militares, responsáveis de cargos importantes, com o machado rente à cabeça apenas por estarem ou terem estado ligados ao CM. Não é justo, é violento.

Decerto, haverá culpados.A Justiça se encarregará de confirmar.
Se para isso for incapaz, gradualmente, haverá soluções para a mensagem e factos reais ser transmitida aos Portugueses e aos que no mundo tomam o CM como referência. E existem muitos.

Se me abordassem para uma entrevista, seria uma conversa instrutiva.
Decerto uma lição para ambos. Para mim, sobre a profissão e deontologia jornalística. Para o jornalista, sobre o espírito colegial; sobre o que representa o CM.

Caso o fim seja apenas o de denegrir o CM e o seu espírito mais genuíno, então o tiro pode ser que saia pela culatra.

Neste preciso momento, após lerem isto, profissionais da Comunicação Social e da Classe Política, que estejam mais interessados em obter créditos corporativos e políticos, vão pensar duas vezes...!

Mas estes gajos afinal são loucos! - pensarão...
Não estarão muito longe da verdade, porque qualquer paixão, acaba por ser uma disfunção.

Pensariam que o CM era a Casa Pia, o Pilão ou a Casa do Gaiato. Sem ofensa...
Nunca foi, nunca será, nem tem nada a ver.

Mas o engraçado é que é isso mesmo. O CM, para nós que o vivemos, é mesmo uma paixão, talvez mesmo a única que prevalece ao longo das nossas vidas, após tantos enganos e erros, nossos e dos outros, namoros e rupturas, casamentos e divórcios, projectos e desilusões, de euforias e desalentos.

Uma instituição que sobreviveu às terríveis consequências das Guerras Napoleónicas, às importantes alterações socio-políticas do Séc.XIX, à transição do regime Monárquico para o Republicano, à ditadura totalitária da qual sempre, em espírito e na prática, foi antagonista... aos ventos revolucionários de Abril, aos suores frios dos recentes cortes orçamentais dos nossos queridos políticos...não saberá, não terá força para achar o caminho para a renovação e a prosperidade?

Desde que seja fisicamente possível, achará, saberá.

Debater, discutir, reflectir e procurar soluções melhores para o futuro é uma coisa.
Destruir, minar, urticária, anti-matéria... é outra.
Não contem com os alunos ou os Ex-alunos do CM, para o destruírem.

Que não restem dúvidas aos senhores do quarto poder, sobre o que representa o CM no coração de todos aqueles que algum dia fizeram continência e olharam à direita na saída dos claustros, marchando perante o busto do nosso Fundador. Não o fazíamos com mágoa, por frete, ou sacrifício, era com gana e coração aos saltos de brio, de orgulho.

Um camarada do meu curso desmaiou de exaustão e inactividade, um dia, em cima da baioneta da sua espingarda Mauser, pouco mais curta que si próprio, enquanto o batalhão formado no Claustro, aguardava receber o Presidente da Republica para que a bandeira do Colégio fosse condecorada com a Cruz de uma das Ordens mais reconhecidas. Cortou o pescoço junto ao maxilar, caiu redondo nas lajes frias e húmidas do Claustro, como uma pedra ele também.
No dia seguinte, após ter sido assistido e devidamente enfaixado, ofereceu-se para desfilar de arma ao ombro e marchar vigorosamente batendo os calcanhares, que até se ouvem nas avenidas paralelas, os 2kms da Avenida da Liberdade, desde o cimo do Parque Eduardo VII até à Igreja de S.Domingos, no Rossio... à chuva.
Não o autorizaram, claro, mas é preciso dizer mais?

Os nossos camaradas, que se acham actualmente desiludidos, desalentados, marcados por alguma situação menos normal, levando a sentirem necessidade de se expressarem publicamente com mágoa.... um por um, havemos de os trazer ao nosso seio, ao nosso abraço, porque nunca o abandonaram, nunca foram abandonados, apenas se acharam perdidos no tempo e no espaço por alguns momentos infelizes.
Um por um, serão de novo abraçados.
Um por todos. Todos por Um.

Somos, do Colégio Militar.
Avante, Meninos da Luz.

401/77 - Fózi – João Simões

Pedro Chagas disse...

Fózi,

concordo em absoluto contigo.

Aprendi no Colégio que as pessoas podem ser condicionadas pelo meio, mas que as responsabilidades pelas suas acções são suas. Não vale a pena desculparem-se e dizer "eu fiz porque toda a gente fazia", porque a resposta é "tu fizeste porque quiseste".

Não é à toa que os graduados mais filhos-da-puta se afastaram rapidamente do Colégio e nunca mais apareceram. Eles sabem que não merecem fazer parte deste grupo.

Anónimo disse...

Fózi,

Tu tens um dom. Tens o dom da palavra e da escrita. Tu não és engenheiro, és escritor. Quando estive sentado na carteira à tua frente reparei que tinhas esse dom.
És capaz de transmitir emoções e sentimentos na escrita como poucas pessoas conseguem. Só conheço pessoalmente duas pessoas com o mesmo dom que tu tens. A minha Mulher e o Javardo. Acho que ele nem imagina que eu penso isto dele próprio e se lho disser ele vai pensar que estou a gozar com ele...

A sério. Consegues capturar uma ideia na tua cabeça e descreve-la completamente. Pergunta a quem quiseres se isso é fácil...
Convido-te para escrever um livro a meias comigo: tu escreves, corriges os meus erros ortográficos, eu dou-te ideias e assinamos o dois o livro...

(a meias: tu dás entrevistas e eu deposito os cheques...)

As únicas coisas que te peço quando escrevermos este nosso livro a meias - se não recusares a escrita - é que seja o nosso amigo Manuel de Freitas a publicar a obra e que escrevas sobre coisas positivas, tipo "este ou aquele sorriso..."

Um bem hajas.


Pedro, desculpa o abuso do teu espaço.


Bicos

Anónimo disse...

O Título não é mau: "Este ou aquele sorriso"

Tem é que ser bastante lamechas e popularucho para vender bastante.

Mas com vírgulas, que diabo! Disso, não abdico...
E nada daqueles tiques de bardo-filósofo-malucário tipo Jim Morrison, ...não quero cogumelos alucinogénicos nem mezcal com gusanito, nos meus textos, Bicos!...nem na capa, oh Manel!

Havemos de pensar nisso. Temos tempo, temos muito tempo.

Mas estimo que antes dos 50, ainda não estarei preparado para escrever um livro, em co-autoria ou não...

Questão de humildade.
A maturidade apura-te a letra.

E confesso que nem de perto nem de longe, me considero maduro suficiente ainda.

A sério.
Mas obrigado pelo incentivo.

E não posso escrever um livro assim mais, de preparação, ....sobre Strippers, primeiro? Posso!?
É que já tenho montes de matéria sobre o assunto!
hehehe!

Bom...
...sabes perfeitamente que também escreves muito bem, embora num discurso mais codificado, com várias camadas de interpretação possíveis, assim como o Chagas, numa linguagem mais jornalística, precisa e cáustica.

Mas se quiseres, o meu segredo não é sequer segredo... é apenas não ter medo de expressar sentimentos e pensamentos, memórias e emoções, críticas e auto-críticas, factos e porque não, ficções, que como tudo na vida são mutáveis e mutantes e por isso, imprevisíveis... o que torna a escrita, uma coisa humana, rica, viva.

Grande abraço, e agradeço muito pelos elogios e sugestões. Contam.

401/77 - Fózi - João Simões