quinta-feira, novembro 26, 2009

"Põe Água Fria Que Isso Passa..."

O Igeménio Tadeu, Antigo Aluno nº 11 de 1934, era professor de ginástica no Colégio na altura em que lá estive, e chegou a ser meu professor em alguns (poucos) anos.

O Tadeu não era professor da Classe Especial, e por isso não colocava alunos a voar por cima de mesas alemãs impulsionados de forma razoavelmente aleatória por uma cama elástica; a "acrobacia" mais arriscada para alunos do 3º grupo era saltar um plinto em extensão com os pés juntos: fazer a chamada no trampolim, voar por cima do plinto, apoiar as mãos no outro extremo, encolher os joelhos para o peito e fazer passar os pés por entre as mãos.

Apesar da pouca sofisticação da manobra, era frequente os alunos não conseguirem executar os passos todos; quando os pés não conseguiam passar por entre os braços e "encravavam" na extremidade do plinto, o resultado era geralmente uma queda desamparada para a frente, apesar da ajuda voluntariosa do Tadeu.

Enquanto o desgraçado do aluno se torcia com dores no meio do chão, achando que tinha partido qualquer coisa, o Tadeu exclamava o seu famoso "põe água fria que isso passa", e lá ia o aluno até à casa de banho efectuar o tratamento de acordo com a prescrição.

Não é credível que na formação ministrada no INEF (actual Faculdade de Motricidade Humana) na década de 40 atribuíssem à água fria poderes curativos instantâneos sobre fracturas de ossos ou roturas musculares, mas o que é um facto é que o Tadeu parecia acreditar em tais poderes.

Nunca vi o Tadeu manter na aula um aluno que estivesse magoado. O "põe água fria que isso passa" significava simplesmente "vence a pieguice e a dor, percebe onde é que fizeste asneira e volta a tentar de imediato, porque se conseguires fazer bem vais ganhar confiança e fazer melhor no futuro, mas se desistires o plinto parecerá maior da próxima vez e podes não conseguir voltar a passá-lo".

Ainda hoje, quando vejo uma "Amélia" vacilar à primeira dificuldade, ficar a lamentar-se e querer desistir, lembro-me logo do Tadeu, e do seu "põe água fria que isso passa".

5 comentários:

Anónimo disse...

Ainda antes de ter o Prof. Tadeu como meu professor já sabia que as estatísticas colegiais o punham como o mais perigoso, ou seja, era nas suas turmas onde aconteciam mais acidentes. E para o comprovar, logo que foi meu professor eu parti um braço numa aula dele.
Mas, como tu enfatizas, nunca deixei de tentar fazer melhor - mesmo apesar de eu não ter muito jeito para a coisa :)

Tchonca 252/77

Miguel Barroso disse...

Assisti a uma situação que deve ter sido das mais caricatas de todas: depois de um salto de pelinto, um colega meu ficou com o antebraço visivelmente fora do lugar!!! braço e antebraço formavam um "T")... o Tadeu com o seu ar descontraído do costume, olha para ele e diz "põe água fria que isso passa"!!!

189/83

Francisco Olivença disse...

Excelente artigo, mas gostava de deixar uma correcção sobre a frase "...apesar da ajuda voluntariosa do Tadeu.";è que de ajuda, havia muito pouco!!lol...mas existem muitas saudades desses tempos!
Chico 84/82

Anónimo disse...

como "castigo" por ter reprovado no 2º ano, logo no primeiro período do ano lectivo seguinte fui recambiado para o 2º grupo, sob a orientação do prof Tadeu. foi um longo Outono a ver a malta do 1º grupo a treinar duplos mortais do outro lado da cortina azul... em Janeiro, já estava no quadro de honra. serviu-me a lição
abc
Piscas
ex436-79
PS ja estou a ver a 1ª página dos pasquins: Alunos do CM que reprovam sofrem sevícias físicas e psicológicas...

Antonio Coutinho disse...

Lindo! Estas historias fazem-nos mesmo recuar no tempo...

E' bom de dizer que nalguns casos, o Tadeu para ajudar puxava uma das maos de apoio para facilitar a passagem as pernas. Escusado sera dizer qual era o resultado...

Em todo o caso, era uma pessoa que espelhava dedicacao e valores que muito contribuiram para quem somos.

249/80 Urso