Memórias do Baú LXVI - "3 de Março" - 1985
- "UM 'hip' DOIS 'hip' TRÊS 'hip' QUATRO" - gritavam os alunos em uníssono, marcando os tempos correspondentes às diferentes posições no manejo de arma.
A repetição exaustiva dos movimentos, primeiro com uma contagem em voz alta sem arma, depois com uma contagem em voz alta com arma e, finalmente, com uma contagem "para dentro" com arma, contribuíam para um resultado perfeito: num Batalhão com cerca de 500 alunos, não havia uma única arma fora do sincronismo desejado, nem sequer nos movimentos mais complexos.
Os movimentos eram pacientemente decompostos em cada uma das suas posições, nas quais se faziam paragens, por vezes prolongadas, para vincar o braço paralelo ao chão, o cotovelo a 90º, a necessidade de não deixar a coronha da arma bater no chão, etc.
Havia também que treinar os músculos para o esforço que representava estar largos minutos em "apresentar arma". Por exemplo, na cerimónia de Imposição da Ordem do Rio Branco (Brasil), no "3 de Março" de 1982, foram tocados em sequência os Hinos de Portugal e do Brasil (e se o Hino do Brasil é grande...), e depois dos Hinos, foi necessário ter energia para voltar ao "ombro arma" marcando bem o primeiro movimento, no que constituía provavelmente a transição mais difícil de todo o manejo de arma, especialmente com a Mauser, à qual era necessário fazer uma rotação de 180º, levantando o braço direito de uma posição esticada para baixo e em esforço, para uma posição à altura dos olhos e paralela ao chão. Só de descrever, fiquei com dores nos braços...
No final dos treinos, apesar do cansaço, havia a sensação de se estarem a fazer progressos em termos individuais e de grupo, mesmo quando alguns Oficiais ou Graduados optavam pela psicologia negativa para reforçar o nosso empenho na vez seguinte: "Isto está uma merda! Para a próxima vez fazemos o dobro do tempo!". No fundo, nós conseguíamos perceber nos olhos deles se as coisas estavam ou não a correr bem.
Um aspecto adicional que tinha que ser treinado para o “3 de Março” era o do reconhecimento dos toques do clarim. Esse reconhecimento era facilitado recorrendo à utilização de expressões que, fora do contexto militar, podem ser consideradas ofensivas por algumas pessoas. No Colégio, era simplesmente uma forma eficaz de memorizar os toques, e parece-me que estou a ver o Comandante do Corpo de Alunos aos berros no campo de futebol de 11 a relembrar os mais distraídos que o toque de “Ena c’um c@%@&/(), já!” correspondia a “Se-e-e….op!”, pois era a mnemónica menos óbvia, já que em "É pá, põe-me essa merda no ombro, já!" e "Apresenta-me essa merda, já!" não havia grande possibilidade de erros de interpretação.
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5 comentários:
boa noite! realmente, cá estou eu de novo...como já te disse, fazes-me recordar um tipo de pessoa que me acompanhou numa fase muito marcante da minha vida, sendo que com o passar do tempo, desapareceu (o tipo)...os graduados desse tempo...não irá discordar que com o passar dos anos até isso mudou, pois sinto que durante a minha evolução colegial foram mudando, não queria dizer perdendo alguma qualidade, mas mudando...sem ofensa para ninguém, mas há que reconhecer que têm um papel de muita responsabilidade...e até nos treinos que se efectuavam, para o 3 de Março, etc, se verificavam diferentes comportamentos para a obtenção de um mesmo fim, que tudo corresse na perfeição...1 abraço Raizes
de novo, confirma só, é o olhinhos que está a ser abordado pelo oficial?
Confirmo.
O oficial é o BM (Bastos Moreira).
... acontece às melhores familias. :)
Talvez se tivesses ido ao Chá (versão nostálgica) há uns meses atras, terias encontrado decerto algumas "gemas" no sentido literal.
Freitas
o "olhinho" passou para o curso de entrada em 1985, teve um chumbozito, nada de mais, se calhar distraiu-se com as amigas da irmã,:-))) bem mas neste momento é rapaz para andar para os açores e quanto aos elementos do sexo feminino, não sei, mas talvez lhe coloque a questão da próxima vez...1 abraço Raizes
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