sexta-feira, dezembro 01, 2006

Memórias do Baú LXXIII - O "Cadastro" (Parte III)

Continuação de Memórias do Baú LXXII - O "Cadastro" (Parte II).

O Furto das "Guloseimas"


Estávamos no 2º ano, no fim do ano lectivo de 1978/79, e fomos para o Pavilhão dos Desportos (actual Pavilhão Carlos Lopes) treinar para o Sarau de Fim de Ano que se ia realizar no dia seguinte.

As diversas classes sucediam-se num ensaio geral especialmente demorado, devido aos últimos acertos, e o tempo era marcado essencialmente por duas sensações: tédio, porque para quem não estava a ensaiar não havia nada para fazer, e fome, porque a tarde já ia longa e não havia nada para comer.

Foi então que, como que "por magia", apareceram nas bancadas umas sandes de pacote que, depois de partilhadas, acabaram por servir para pouco mais do que "enganar" a fome. Apesar de não ter havido muitas perguntas, era óbvio para os presentes que as sandes tinham uma origem ilícita, e que isso nos podia trazer problemas.

O Sarau realizou-se, o ano lectivo acabou, e fomos todos para casa, ser pensar mais nas sandes. No entanto, no ano lectivo seguinte, o longo braço da justiça estava à nossa espera...

Iniciou-se então uma investigação especialmente complexa, devido ao número elevado de "arguidos" e ao facto de ter já passado algum tempo e já ninguém se lembrar (ou não se querer lembrar) muito bem do que tinha acontecido. As coisas ficaram ainda mais complicadas quando percebemos que a queixa apresentada referia uma dimensão muito superior àquela pela qual reconhecíamos ser responsáveis, o que deixava antever que tinha havido outros camaradas a ter a mesma ideia, ou que a queixa tinha sido propositadamente exagerada para a obtenção de uma compensação mais elevada.

Ao fim de vários meses, os oficiais acabaram por se render à evidência de que, face às variáveis em jogo, nunca iriam conseguir perceber exactamente o que tinha acontecido, e acabámos por nos "safar" apenas com uma repreensão escrita.

Houve dois aspectos muito relevantes para mim neste processo: em primeiro lugar, ficámos com um "peso na consciência" por termos feito uma acção que, para além de ter consequências disciplinares para nós, prejudicou a imagem do Colégio; em segundo lugar, ficou muito claro para nós que éramos todos responsáveis no mesmo grau, independentemente de quem furtou, quem vigiou, e quem só comeu, sabendo ou suspeitando de onde vinham. O texto da punição foi, aliás, igual para todos, referindo-se às sandes como "guloseimas", talvez para reforçar a censurabilidade do acto.

Há um ditado popular que diz que "tão ladrão é o que vai à horta, como o que fica à porta". A isto, a nossa experiência acrescentou "como o que, mesmo não metendo lá os pés, usufrui conscientemente dos produtos hortícolas furtados".

Continua em Memórias do Baú LXXVI - O "Cadastro" (Parte IV).

6 comentários:

Anónimo disse...

Engraçado mas eu pensei que fosse no fim do 1ºano. De facto a 'punição' só veio qdo estávamos no 3º.

Lembro-me também do nosso "socialite" ex-407 dar-nos um sermão sobre as responsabilidades dos nossos actos e que no CM os alunos que fazem asneira acusam-se!

De qq forma sempre achei injusta a "repreensão" pq só os putos como nós é que a levaram. Até pq elas estavam ali à mão de semear em cima do balcão e a fome era muita...

Aqueles que de facto abriram a arca congeladora (esqueceste de dizer que algumas sandes estavm quase congeladas), ficaram a rir-se...

O pior foi depois explicar ao Pai o que tinha acontecido eh eh.

/LB

Pedro Chagas disse...

LB,

não me lembro desses detalhes, até porque "não fui à horta"...

Conta lá mais detalhes.

Pedro Chagas disse...

Jags,

a justiça do Pardal?

E depois dizem que eu é que uso ironia... ;-)

Anónimo disse...

Por acaso não me lembro se o Douto Juiz esteve envolvido na coisa :)

Não há muito mais para contar. A cena do 407 na camarata a dar-nos um sermão sobre a honra do menino-da-luz é que ficou na memória. Não tanto por ele (era até um 'gajo porreiro', com aquela estória da aliança...) mas pelo que disse ali em relação à responsabilidade dos actos e pelo que depois se verificou: quem se lixou foram só os mexilhõezinhos.

E depois tudo acabou em águas de bacalhau. A repreensão era necessária para salvar a face de um inquérito idiota que só conseguiu descobrir culpados de palmo e meio (além das alarvidades que lá estavam escritas e que agora não me lembro, mas que me fizeram suar para explicar que não tinha sido bem assim).

/LB

Pedro Chagas disse...

LB,

"estória da aliança"? Conta!

Lembro-me que o texto que foi para casa era muito mais "carnudo" do que o que está no "cadastro". Também tive alguma dificuldade em explicar ao meu pai...

Anónimo disse...

:)

A "estória da aliança" era relativa ao estado civil do rapaz e não tem nada a ver com as sandochas.

Vocês não se lembram de ele andar com o 'anel do poder' no respectivo dedo da mão *esquerda*?

Eu lembro-me de ouvir de passagem enquanto estava à espera para telefonar à mãmã no famoso telefone vermelho (que estórias tem este telefone, não é Douto Juiz?) uma conversa que ele teve com um oficial em que observou qq coisa assim : "o meu capitão sabe que eu sou casado"

Eu fiquei curioso na altura e acho que a estória era verdadeira, mas não quero estar a cometer nenhuma gafe. Alguém sabe se era verdade?


/LB