Os Chás Dançantes dos anos 80 davam um filme.
O filme começava muito antes da abertura das portas, com o planeamento dos trabalhos, a concepção, a construção dos elementos cénicos e a montagem.
Se o trabalho de concepção ficava a cargo de um grupo restrito, já a montagem "tocava a todos", pela quantidade e variedade das tarefas envolvidas: montagem dos cabos de suporte da cobertura, montagem da cobertura, montagem dos adereços (luzes, bolas de espelhos, máquinas de fumo, etc.), montagem da mesa de som e luzes, montagem do sistema de som, colocação dos cobertores nas janelas, montagem do bar, etc.
Depois vinha a "hora da verdade"... abriam-se os portões e começava a secção principal do filme: a festa!
Nesta secção, desfilavam personagens como o "dj", o "galã", o "predador", a "vamp", o(a) tímido(a), a aluna do IO (caracterizada pelo ataque/defesa em grupo), o ex-aluno com cabeleira farta (só porque podia), o "rata" que acompanhava a irmã mais velha (até ela o mandar "desaparecer"), o "nerd"(*), etc.
Depois vinha a parte final do filme... a desmontagem e arrumação do espaço, mas, sobretudo, a partilha e "arrumação" das memórias, com o consequente planeamento das acções para os dias seguintes (telefonemas a fazer, cartas a escrever, filmes para ver, etc.).
Os Chás Dançantes eram muito importantes para nós; tão importantes, que a ameaça do seu fim deu origem à "boiada" mais "mediática" dos anos 80: durante vários dias, todo o Batalhão andou em "fila indiana" para todo o lado, e nos intervalos das aulas os alunos andavam em duas filas (uma para cada lado) à volta das varandas dos claustros. Resultou: as duas partes em litígio sentaram-se à mesa e negociaram um acordo que permitiu a continuação dos Chás.
Recentemente, uma antiga frequentadora dos Chás Dançantes encontrou no "baú" alguns convites, tendo criado um "blog" para os partilhar. Estas imagens de pedaços de papel vão-nos certamente despertar memórias dos "bons velhos tempos".
A visitar, em http://chadancante.blog.co.uk.
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(*) Não estamos a falar do verdadeiro "nerd", porque esse obviamente não ia aos Chás: ia perder uma tarde de estudo, ouvir música em "altos berros" e - pormenor extremamente desagradável - estar ao pé de "gajas".
Estamos a falar do "nerd light", que o "galã" podia apresentar às amigas e explicar que era o gajo que tirava 18s e que lhe passava respostas nos pontos, mas que até gostava de música, ia aos Chás, e conseguia tentar dançar sem cair (estou obviamente a exagerar, porque o Salgueiro só me fez isto um vez).