segunda-feira, setembro 02, 2013

Reforma dos EME: "Não queremos saber"

É irónico...

Depois de décadas de atenção aos movimentos dos partidos de inspiração marcadamente antimilitarista, bem como ao partido que, apesar de não ser marcadamente antimilitarista, teve no seu programa a extinção do Colégio Militar, a maior ameaça ao futuro do Colégio acaba por vir de um partido que sempre teve posições próximas do Colégio, o que levou até a que um seu ex-líder, hoje Presidente da República, fosse distinguido com a maior honra que o Colégio atribui, a de Aluno Honorário. 

Durante décadas achámos que a ameaça viria dos sectores da sociedade que têm desprezo pelo conceito de Pátria, mas afinal a maior ameaça ao futuro do Colégio acaba por vir de um Governo que faz questão de usar a bandeira de Portugal na lapela.
Durante meses a Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar (AAACM) tentou colocar a sua experiência e o seu conhecimento do Colégio ao serviço da segunda comissão responsável pela reforma dos Estabelecimentos Militares de Ensino (EME). "Não queremos saber", foi a mensagem que foi passada por um Ministério prepotente, que sabe o que quer e não está disponível sequer para fingir que valoriza a opinião das partes interessadas.

Um conjunto de 35 personalidades de relevo na sociedade, nenhuma das quais Antiga Aluna do Colégio, escreveu uma carta ao Presidente da República para que este pedisse ponderação ao Governo. "Não queremos saber", comentou no próprio dia o Ministério.
O Professor Marçal Grilo, responsável pela primeira comissão de análise à reforma dos EME, demarcou-se da forma como o processo está a ser conduzido, sendo um dos signatários da carta. "Não queremos saber", diz o Ministério.
A AAACM pede audiências ao Ministro... nada! A AAACM apela para o Primeiro-Ministro... nada! A AAACM apela para o Presidente da República... nada! "Não queremos saber".
 
A Sra. Secretária de Estado da Defesa Nacional escreveu no Diário de Notícias um artigo no qual desfolha os progressos no sentido da igualdade do género no nosso país, referindo que "no fim do dia, a polémica criada, nos últimos meses, sobre a reforma dos estabelecimentos militares de ensino resumiu-se a isso. Garantir que as mulheres continuariam sem entrar no Colégio Militar".
 
Se a Sra. Secretária de Estado da Defesa Nacional se desse ao trabalho de ouvir, que é uma das características fundamentais de uma líder ou de um líder, teria percebido que, no fim do dia, não é isto que está em causa.
 
A posição da AAACM não é contra a entrada de mulheres no Colégio Militar. As 35 personalidades que escreveram ao Presidente da República não são contra a entrada de mulheres no Colégio Militar. Os Antigos Alunos em geral não são contra a entrada de mulheres no Colégio Militar. Ninguém é contra a entrada de mulheres no Colégio Militar. As pessoas pedem ponderação. Diálogo. Reflexão. Prudência. Porque entre as medidas propostas há algumas que são verdadeiramente "assassinas", como por exemplo a admissão de alunos internos para o 10º ano. E há outras que têm tudo para correr mal se não forem bem pensadas, como a coexistência de internato masculino e feminino no mesmo "campus".
 
Poupança? Tenham dó... a primeira medida é "enterrar" vários milhões de Euros a construir um edifício que ninguém sabe se vai ser necessário ou se está adequadamente dimensionado...
 
Exmo. Sr. Ministro da Defesa Nacional, Exma. Sra. Secretária de Estado da Defesa Nacional, apenas peço aquilo que todos os Antigos Alunos pedem: ponderação, diálogo e prudência. Se realmente não querem destruir uma instituição com mais de 200 anos e inequívocos serviços prestados à Pátria, trabalhem com a AAACM e as restantes entidades envolvidas no sentido de se conseguir uma reforma que atinja os objectivos financeiros e de igualdade de género sem matar o Colégio.

Mas já sei a resposta de V. Exas. a este meu apelo: "não queremos saber".

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