Certo dia, numa saída de quarta-feira à tarde, um aluno do Colégio, devidamente fardado, viajava sentado num autocarro da Carris completamente cheio, quando entrou uma senhora de meia-idade.
Como era já usual (e hoje é uma "regra instituída"), os homens que iam sentados fingiram que não era nada com eles: uns focaram-se mais no que estavam a ler, outros olharam pela janela "para o infinito", e outros não se deram sequer ao trabalho de disfarçar.
O aluno levantou-se prontamente para dar o lugar à senhora, que agradeceu com um comentário simpático em relação aos "Meninos da Luz", de forma a que fosse perfeitamente audível por todos os presentes.
Até aqui, tudo normal; aliás, se ele não desse o lugar à senhora, o mínimo a que se arriscava era a passar uma vergonha. Era a responsabilidade de andar fardado.
Mas acontece que a senhora era amiga do Bívar, um Sub-Director (ex-aluno) temido pela sua rigidez de cavaleiro, e em relação ao qual os alunos gostavam de manter uma distância prudente. E se o Bívar era um cavaleiro, também era um cavalheiro, e ficou tão sensibilizado com a descrição "épica" do acontecimento que lhe foi feita pela amiga, que resolveu que alguma coisa tinha que ser feita.
Assim, circulou pelo Corpo de Alunos a seguinte indicação: "deve apresentar-se no gabinete do Sub-Director o aluno que ia no 41 às tantas horas da passada quarta-feira".
O aluno em causa, após rever mentalmente vezes sem conta todas as suas acções para identificar o que é que poderia ter suscitado a ira do Bívar, e imaginar qual seria a reacção dos pais a uma punição que seria certamente pesada (para o Bívar, a escala começava em 35...), apresentou-se para a execução da sentença. Mas, para sua grande surpresa, não só não foi punido como acabou com um louvor em Ordem de Serviço, escrito em termos que fariam as conquistas de Alexandre o Grande parecer uma brincadeira de crianças.
Lembrei-me disto recentemente porque estava sentado no comboio, a trabalhar, quando entrou uma senhora de meia-idade. Os homens fingiram que não era nada com eles, mas eu tive o "azar" de estar "fardado" (com a barretina na lapela), e por isso levantei-me de imediato e continuei a trabalhar de pé.
É a responsabilidade de andar "fardado"...