sexta-feira, dezembro 23, 2005

Graduações 1984/85: "Post-mortem" (Parte II)

Continuação de Graduações 1984/85: "Post-mortem" (Parte I).

A falta de liderança ao nível global foi o problema mais complexo que assolou o nosso curso.

Em muitos cursos havia um ou dois alunos que desde cedo eram “posicionados” para exercer as funções de topo na hierarquia Colegial, quer pelos camaradas, quer pelos professores e oficiais. Os professores e oficiais ajudavam a que não lhes faltasse o “ouro” suficiente para a função, e os camaradas habituavam-se a reconhecer neles uma liderança “de direito”, ainda que esta nem sempre correspondesse a uma liderança “de facto”. Esta solução, ainda que não sendo a ideal, pelo menos criava uma figura de referência, alguém para quem os camaradas se voltavam quando era necessário que alguma coisa fosse organizada.

Em outros cursos verificava-se o surgimento de um líder natural que, não tendo o “pedigree medalhístico” dos anteriormente referidos, poderia beneficiar do facto da não haver um líder “de direito” para acabar por ser o escolhido para a função.

No nosso curso, a correlação entre aplicação literária, aptidão militar e física e comportamento exemplar era bastante reduzida e, dos poucos que se aproximavam dessas circunstâncias, nenhum se alinhou ou foi alinhado para a função.

Com o passar dos anos, começou a surgir no curso um nome consensual. Não sendo um líder claro, conseguia ser o “mal menor”, porque parecia ser capaz de fazer a “ponte” entre a Classe Especial e os restantes camaradas, ou pelo menos não ser “vetado” por nenhuma das “facções”. No entanto, no início do 8º ano não “compareceu à chamada”, "desaparecendo misteriosamente". Toda a gente é livre de fazer opções sobre o seu futuro, mas quando alguém que, com elevada probabilidade, vai ser o Comandante de Batalhão, sai e nunca mais aparece no Colégio, nem vai aos “3 de Marços”, nem aos jantares de curso, nem à comemoração dos 25 anos de entrada, há seguramente um mistério que um dia será explicado.

E assim prosseguimos para o 8º ano. Cada companhia organizou-se como entendeu, não havendo uma estratégia global. Nas organizações globais ("mocada", chás dançantes, etc) imperou o improviso; como "corolário", "comemos" o livro de curso, ou seja, optámos por gastar num jantar o dinheiro que nos sobrava para o livro.

Seria fácil mandar a culpa desta situação para cima de A ou B. Neste caso, fomos todos culpados, quer porque não criámos condições para que houvesse uma liderança efectiva, quer porque não exigimos aos camaradas que tinham essa responsabilidade formal que cumprissem com as suas obrigações ou "saíssem de cima".

Continua em Graduações 1984/85: "Post-mortem" (Parte III).

3 comentários:

Anónimo disse...

Mais uma vez, muito interessante! Oxalá alguém do meu curso fizesse a mesma análise. Mas tu de certo modo desfazes alguns mitos, como o da importância dada à definição das graduações, e manténs outros, como o de haver uma classe especial de onde saem as elites, e o comandante de batalhão. Só fiquei sem saber se o comandante de batalhão "indigitado" sabia que o ia ser e se foi por isso que cavou... Também gostava de saber quantos do teu curso chegaram ao último ano e quantos ficaram pelo caminho, e o que aconteceu aos graduados que tinham chumbado no ano anterior, se é que os houve.

Anónimo disse...

Este comentário não surge especificamente a propósito deste post. Mas sim a propósito deste blog e o quanto me fez mudar uma primeira imagem algo negativa...
Conhecemo-nos no dia da última aula de um grande professor, o Bata (ou se preferires como fizeram o favor de nos explicar o "Bata-man"), tinhas acabado de dar uma voltinha pelo Colégio e à saída dos Claustros fizeste-nos umas "perguntas". Confesso que detestei a ironia e o sorriso "manhoso" com que nos falaste e ainda por cima o grande sentimento de culpa/pequenez.
Felizmente o meu pai (ex-aluno que entrou em 73) desdramatizou a coisa dizendo que todos "nós" ficamos marcados pelo nosso tempo e daí ser compreensíveis as muitas críticas negativas que fizeste algumas delas na minha opinião injustificadas. Contudo friso que apenas ALGUMAS foram injustificadas, no entanto julgo que talvez fosse mais produtivo tomar uma atitude construtiva e não destrutiva. Digo isto porque este blog está repleto de memórias, das requisições, das pinturas, do ser graduado, do tirar uma foto a um camarada a dormir...enfim uma imensidão de coisas só possíveis num internato. Talvez os ex-alunos no teu tempo não vos tenham ajudado ou interferindo nas vossas funções de graduado, talvez também por isso agora reconheças (pelos menos assim interpretei este último post) muitos erros. Talvez sejam esses erros necessários para se aprender com o ser graduado, mas acho que concordamos que a incompetência de um graduado põe em causa a correcta formação de um menino da Luz, principalmente quando mais novo. Assim sendo, como actual graduado, gostava de ouvir a opinião CONSTRUTIVA de adultos que viveram o Colégio que agora têm filhos ou sobrinhos e têm uma perspectiva do que é educar nos dias que correm. Tenho a certeza que já estás a par de novos métodos educativos que têm vindo a ser aplicados para tristeza de muitos e alegria de poucos. Métodos esses que visam precisamente a evitar que haja quem acabe o Colégio só porque foi obrigado e tentar ao máximo que todos o vivam ao máximo, num ambiente fraterno e não de "terror", sem descurar na exigência (opinião que sei que pelo menos há uns tempos n partilhas, pelo menos deste a entender que o Colégio actual está longe de ser exigente...)talvez assim esses ex-alunos nunca deixem de ir à avenida, jantares de curso e não hesitem em fazer publicidade "positiva" ao Colégio e ponham cá os seus filhos, sem qualquer perigo de a esposa ter receio do que é que andam a fazer ao filho que chega a casa estafado ou marcado...
Talvez tenha falado demais/despropositadamente para um comentário, mas foi a única forma que arranjei de "falar" contigo.
Já agora sou aluno do actual 8º ano/graduado.

Rantas disse...

Chagas,

Também entrei em 77, mas saí do Colégio logo a seguir ao 5º ano. Não consegui reconhecer o líder que tão inopinadamente desapareceu. Quem foi?

Aproveito ainda para acrescentar mais uma coisa - o comentário do 554-Esteves é, na minha opinião, sintomático. Independentemente de se concordar com o conteúdo (não é isso que me interessa realçar), é de Homem vir aqui deixar um comentário destes. É desta massa que se fazem os líderes.
Um abraço!
442/77