domingo, fevereiro 19, 2006

Memórias do Baú XXVI - Frases Lapidares

Continuação de Frases Lapidares (Introdução).

A "Chama" Que "Arde" em Cada "Menino da Luz" (Parte I)


Ainda bem que havia extintores nas camaratas.

É que às vezes, após um Zacatraz, um olhar de relance para a cúpula, ou a prática de um acto de sã camaradagem, a "chama" de "Menino da Luz" que "arde" em nós atingia uma tal intensidade, que só uma boa dose de pó químico a permitia controlar.

Se era tóxico? O rótulo dizia que sim, mas aprendemos no Colégio a não impor nem aceitar rótulos. Só havia uma forma de o saber: tal como Pasteur se injectou com uma Penadur para ver se fazia algum efeito (para além de ficar uns dias sem conseguir andar), também nós percebemos que a única forma de saber se o pó químico era tóxico era experimentando-o em nós próprios. Se era tóxico, pelo menos não parecia.

Tudo começou com uma dúvida legítima: um dos graduados reparou que o selo de segurança do extintor da camarata estava partido. Será que o extintor estava com carga? Será que estava vazio, e que só o descobriríamos numa situação de emergência? O extintor era pesado, mas assumimos que a maior parte do peso viria do invólucro e não da carga, pelo que um extintor vazio também seria pesado.

A única forma de descobrir se o extintor tinha carga era fazer um teste. Retirámos o extintor do suporte, apontámos para uma das zonas de lavatórios à porta da camarata e “apertámos o gatilho”. Vooooooossssssssssssshhhhhhhhh! Saiu uma nuvem branca, acompanhada por um dos sons mais fantásticos que alguma vez ouvi, e de que ainda hoje me recordo. No chão ficou apenas uma camada fina de pó branco, que não deu praticamente trabalho nenhum a disfarçar.

Olhámos uns para os outros com satisfação, e não tardou que estivéssemos a fazer mais experiências, e que começássemos a fazer pontaria uns aos outros, primeiro às pernas, e depois, uma vez verificado que o pó não estragava a farda nem parecia afectar-nos, “levantando a mira”...

Passámos a surpreender-nos uns aos outros nas situações mais diversas, fazendo aproximações “furtivas”, para depois fazer “saltar” a “vítima” com o “rugido” do extintor e o envolvimento pela nuvem branca.

A carga do extintor durou poucas semanas. Esta situação acabou por ter uma virtude: passámos de uma dúvida – o extintor teria carga? – a uma certeza – o extintor não tinha carga!

Quando a outra camarata soube das nossas experiências, o selo de segurança do extintor deles também “apareceu” partido, e a carga do extintor durou dois dias. Corriam atrás uns dos outros de extintor na mão, e só paravam quando a “vítima” era “encurralada” e devidamente coberta de pó químico.

Irresponsabilidade? Seguramente. Mas a "chama" de adolescentes que "ardia" em nós levava-nos a fazer disparates destes... Não recordo isto como um “troféu” do passado, mas simplesmente como uma história curiosa, que felizmente não teve consequências. Como atenuante, posso apenas referir que tivemos sempre o cuidado de nunca usar o extintor à frente dos alunos mais novos.

Fotografados: 439/76 e 357/77.

Continua em Memórias do Baú XXVII - Frases Lapidares.

1 comentário:

Anónimo disse...

Felizmente que não havia na camarata nenhuma fonte de calor que pudesse provocar um incêndio, tal como uma placa de cozinha para fazer ovos comm salsichas ao jantar dos dias em que era "solha au meunier"...