Continuação de Graduações 1984/85: "Post-mortem" (Parte II).
Parti para o 8º ano com um objectivo: ser graduado do 1º ano.
Há anos da vivência colegial que são mais marcantes do que outros, geralmente em função da idade dos alunos e correspondente apetência a "absorver" o que lhes é transmitido. O 1º ano é um desses anos, pois representa uma mudança muito significativa na vida dos alunos, e é essencial que essa mudança seja bem enquadrada, por forma a evitar problemas sérios de rejeição.
No Estágio de Graduados, depois de nomeados os Comandantes de Companhia, os restantes alunos dividiram-se pelas Companhias de acordo com as suas preferências e com os convites que lhes foram dirigidos. O 1º ano teria 6 graduados, uma vez que havia mais alunos no curso do que os necessários para uma configuração "normal", e não foi difícil para mim encontrar um lugar dentro desse grupo.
O Comandante de Companhia ("Fru-fru") escolheu então os dois camaradas que iriam comandar os pelotões. Essa escolha - com a qual concordei - não me contemplava, pelo que fui ocupar a posição de "sorja". Poderia fazer o discurso do tipo "a graduação era irrelevante", mas não quero gozar com a vossa inteligência. Digamos apenas que, tendo em conta o objectivo principal e a homogeneidade(*) da "concorrência", foi a solução possível.
Durante os 7 anos anteriores, foram inúmeros os exemplos de desvalorização do papel dos "sorjas" a que tive o desprazer de assistir. Como "sorja" era a graduação mais baixa, qualquer graduado, por mais "besta" que fosse, era pelo menos "sorja", o que ajudava a conotar a imagem dos "sorjas" com comportamentos desleixados ou até desequilibrados.
Houve duas excepções a este comportamento que me marcaram: os "sorjas" que apanhei no 1º ano e os que apanhei no 4º ano.
Quanto aos do 1º ano, foi talvez "por definição": ser "sorja" do 1º ano é claramente uma má escolha para quem quer ser "sorna"; o trabalho de formar e acompanhar os "ratas" não dá "tréguas".
O 4º ano correspondeu ao 1º ano em que o Colégio passou a ter 8 anos. Dado que houve muitos graduados que optaram por fazer o "propedêutico" fora do Colégio, houve necessidade de ir buscar graduados ao 7º ano. Sendo assim, nesse ano os "sorjas" eram, na sua maioria, a "nata" do 7º ano. Em alguns casos, os "sorjas" tinham claramente mais empenho, bom-senso e maturidade do que os graduados que os (/nos) comandavam...
As minhas expectativas de poder vir a comandar o que quer que fosse - nem que fosse só ocasionalmente, por substituição -, essas sim, ficaram seriamente abaladas com a definição das graduações... ;-)
Senão vejamos...
As regras determinavam que o nível de graduação era o primeiro critério para a definição da hierarquia. Em termos de desempate entre graduados com o mesmo nível, a companhia mais "moderna" era a 1ª - a minha -, dentro da Companhia, o Pelotão mais "moderno" era o 1º - o meu - e, dentro deste, se houvesse graduados em igualdade de cicunstâncias (que era o caso, uma vez que o Pelotão tinha dois "sorjas"), aplicava-se o tradicional desempate colegial, mediante o qual o mais "moderno" era o que tinha o número mais alto - EU!
Isto significava que, para que eu pudesse comandar o meu Pelotão, a minha Companhia ou o Batalhão, teriam que sair ou estar incapacitados, respectivamente, 2, 10, ou 46 camaradas na minha linha directa de comando. Não era fácil... ;-)
Continua em Graduações 1984/85: "Post-mortem" (Parte IV - O "Pai Natal").
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(*) Homogeneidade da "concorrência": 4 dos 5 alunos habitualmente "candidatos" à medalha de Ouro de Aplicação Literária na "recta final" do curso e com "MB" a comportamento estavam no grupo de graduados do 1º ano (a fotografia é do princípio do 7º ano). Pelo menos nestes aspectos, a "concorrência" era homegénea.
