Continuação de Frases Lapidares (Introdução).
A "Chama" Que "Arde" em Cada "Menino da Luz" (Parte I)

Ainda bem que havia extintores nas camaratas.
É que às vezes, após um Zacatraz, um olhar de relance para a cúpula, ou a prática de um acto de sã camaradagem, a "chama" de "Menino da Luz" que "arde" em nós atingia uma tal intensidade, que só uma boa dose de pó químico a permitia controlar.
Se era tóxico? O rótulo dizia que sim, mas aprendemos no Colégio a não impor nem aceitar rótulos. Só havia uma forma de o saber: tal como Pasteur se injectou com uma Penadur para ver se fazia algum efeito (para além de ficar uns dias sem conseguir andar), também nós percebemos que a única forma de saber se o pó químico era tóxico era experimentando-o em nós próprios. Se era tóxico, pelo menos não parecia.
Tudo começou com uma dúvida legítima: um dos graduados reparou que o selo de segurança do extintor da camarata estava partido. Será que o extintor estava com carga? Será que estava vazio, e que só o descobriríamos numa situação de emergência? O extintor era pesado, mas assumimos que a maior parte do peso viria do invólucro e não da carga, pelo que um extintor vazio também seria pesado.
A única forma de descobrir se o extintor tinha carga era fazer um teste. Retirámos o extintor do suporte, apontámos para uma das zonas de lavatórios à porta da camarata e “apertámos o gatilho”. Vooooooossssssssssssshhhhhhhhh! Saiu uma nuvem branca, acompanhada por um dos sons mais fantásticos que alguma vez ouvi, e de que ainda hoje me recordo. No chão ficou apenas uma camada fina de pó branco, que não deu praticamente trabalho nenhum a disfarçar.
Olhámos uns para os outros com satisfação, e não tardou que estivéssemos a fazer mais experiências, e que começássemos a fazer pontaria uns aos outros, primeiro às pernas, e depois, uma vez verificado que o pó não estragava a farda nem parecia afectar-nos, “levantando a mira”...
Passámos a surpreender-nos uns aos outros nas situações mais diversas, fazendo aproximações “furtivas”, para depois fazer “saltar” a “vítima” com o “rugido” do extintor e o envolvimento pela nuvem branca.
A carga do extintor durou poucas semanas. Esta situação acabou por ter uma virtude: passámos de uma dúvida – o extintor teria carga? – a uma certeza – o extintor não tinha carga!
Quando a outra camarata soube das nossas experiências, o selo de segurança do extintor deles também “apareceu” partido, e a carga do extintor durou dois dias. Corriam atrás uns dos outros de extintor na mão, e só paravam quando a “vítima” era “encurralada” e devidamente coberta de pó químico.
Irresponsabilidade? Seguramente. Mas a "chama" de adolescentes que "ardia" em nós levava-nos a fazer disparates destes... Não recordo isto como um “troféu” do passado, mas simplesmente como uma história curiosa, que felizmente não teve consequências. Como atenuante, posso apenas referir que tivemos sempre o cuidado de nunca usar o extintor à frente dos alunos mais novos.
Fotografados: 439/76 e 357/77.
Continua em Memórias do Baú XXVII - Frases Lapidares.